Já que o tema vem e volta...
Não vou entrar nessa bobagem de escola sem partido, mas vou
dizer como eu vejo uma questão que tangencia o tema.
Há algum tempo, discutindo com alguns amigos, propus para
eles a reflexão "por que será que professores de humanas geralmente são de
esquerda?". Na falta de respostas, eu mesmo arrisquei uma: quando o
estudioso de humanas se debruça sobre a história da humanidade, sobre os
fenômenos sociais e tudo o mais, e o faz com bastante honestidade, ele chega a
uma conclusão bastante simples: os mecanismos perversos que sustentam o status
quo, em uma sociedade de ideologia predominantemente capitalista, e suas
perversões garantem a exploração do ser humano de forma geral por um grupo bem
menor e cada vez mais exclusivo à medida que esse poder de subjugar o outro
aumenta. O estudioso honesto e humanitário terá uma visão bastante crítica
desse processo. Porque ele foi lá e estudou a fundo esses fenômenos.
Então, nem se trata de ser comunista ou capitalista, o
estudioso de humanas terá uma visão negativa disso tudo. Ocorre que a força
perversa que domina o mundo, nesse sentido, é a força capitalista. A partir do
momento em que o estudioso se torna um crítico desse modelo, ele
automaticamente é empurrado, por meio dos rótulos, para o
"comunismo".
Mas é extremamente saudável que haja essa "força
ideológica" que se insurja contra a onipotência do pensamento capitalista
hegemônico. Isso garante nossa decência como seres humanos, para não cairmos na
ditadura do pensamento único.
Nem é preciso dizer que o "mercado" é capitalista
e cada vez mais selvagem. Então já existe uma força avassaladora que consome as
pessoas e é preciso fazer algum tipo de contrapeso. Natural que esse contrapeso
venha do meio acadêmico porque o que move o mercado não é a dignidade, o
pensamento, mas a ganância, a voracidade. Já os valores do meio acadêmico são
outros.
Imaginem vocês se os capitalistas levassem de reboque o
pensamento acadêmico? Não restaria mais nada. Mas isso não acontecerá porque
sempre haverá seres humanos bastante críticos e sensíveis a essa realidade e
que sempre proporão uma leitura alternativa, uma tentativa de equilibrar essas
forças, para não sermos todos consumidos pela lógica capitalista selvagem.
Portanto, deixemos nossos professores com seu olhar crítico
e perturbador da realidade (crítico e perturbador para os que estão
anestesiados pela visão maniqueísta de que "capitalismo" é bom e
"comunismo" é ruim). É essa capacidade de enxergar além da hegemonia
que não permitirá que nos desumanizemos demais.
Por fim, escola sem partido é um projeto furado porque
sempre haverá pessoas que pensam contra a corrente, que não se submetem ao
pensamento hegemônico.
Viva a pluralidade de pensamento. Viva nossa capacidade de
nos insurgirmos contra as ditaduras, sejam elas óbvias, sejam elas ardilosas.
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