Continuei andando como quem não quer nada e, quando cheguei
ao lado do carro, filmado, ouvi uma voz no banco de trás que pareceu dar a seguinte
ordem: “abre o vidro!” Assustei-me, a pessoa da frente estava abrindo o vidro,
olhei disfarçadamente e era uma moça com um olhar muito assustado. Estranhei.
Andei mais alguns metros, havia alguns carros estacionados, me escondi atrás de um deles e não tive dúvidas: liguei para o 190 dizendo suspeitar estar presenciando um sequestro relâmpago. Perguntas de praxe, onde, se eu via o carro, modelo, placa. Não dava para enxergar a placa e o carro continuava parado. Perguntei para a policial se era comum o carro ficar estacionado em sequestro relâmpago. Ela não me respondeu e queria a placa. Tentei me aproximar disfarçadamente, mas com medo de o suposto bandido perceber minha manobra. Quando faltavam alguns metros, o carro arrancou subitamente, rodou alguns metros e parou de novo bruscamente.
Disse à policial que não havia conseguido, ele havia arrancado bruscamente e parado mais à frente. Eu iria tentar alcança-lo novamente. A policial disse que mandaria uma viatura averiguar e desligou. Segui o carro, quando chegava perto, ele arrancou novamente. Andou mais uns 50 metros e parou bruscamente de novo. Os motoristas que passavam buzinavam irritados. Eu comecei a segui-lo de longe, correndo, agora sem intenção de anotar a placa somente para ver onde ia dar, caso a polícia aparecesse rapidamente.
Ele repetiu novamente a manobra, saiu bruscamente, rodou
mais uns 50 metros, os outros motoristas buzinando e parou em frente a uma rua.
Continuei correndo. Foi quando o carro fez menção de retornar em voltar na
minha direção. Gelei. Alguém teria percebido alguma coisa? Mas não, ele entrou
meio em disparada na rua à sua frente, um local ermo. Parei e pensei em voltar
correndo para a esquina anterior mais próxima e ver onde o carro havia ido. Pensei
melhor: e se eu der de cara com o carro e os caras perceberem que os estou
seguindo?
Fiquei na padaria da esquina, movimentada, esperando ver se
o carro passaria na rua de trás, no outro sentido. Não passou. Se ele entrou à
direita na rua, fatalmente voltou para a avenida porque era uma bifurcação em
Y. Fiquei de olho. Impressionante a quantidade de Merivas pratas que passaram
por mim naqueles minutos. Perdi o carro de vista. Fiquei uns 20 minutos
esperando e a polícia não apareceu.
Abandonei minha caminhada e voltei para casa intrigado e
derrotado. Definitivamente havia algo acontecendo naquele carro pois suas
manobras não eram nada normais. Poderia até mesmo ser uma briga entre um casal
(o homem estaria no banco de trás e a moça no banco da frente: de qualquer
forma, muito estranho). Ou poderia ter sido mesmo um sequestro relâmpago. Se ao
menos eu pudesse ter anotado a placa, teria ajudado a polícia a averiguar.
Só espero agora a polícia não me localizar pelo número do
meu celular e sugerir que eu estava passando um trote...
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