domingo, 20 de abril de 2014

Parto e esquecimento

PARTO

Já me dei conta que, por fim, o que me empurra para a frente é a necessidade de parir. Música. É o que eu consigo parir. Parir, parir, parir. Talvez a angústia de deixar algo de mim depois que eu partir para o silêncio onde me acompanhará o esquecimento. Talvez uma tentativa inútil de não me deixar apagar jamais. Mas eu não pairo. Apena paro. Porque escolhi o caminho mais difícil do parto em que a cria, além de esquisita e cheia de rococós, e por isso mesmo só vem à luz depois de muito sofrimento, só surge depois de um parto coletivo. E onde há coletividade, sempre há mais emoção, mas também muito mais contingências. E o infeliz quase sempre vem à luz depois de passado o tempo que se julgaria razoável para uma gestação, quando o natural já era dá-lo como morto. No fim, só restará isso mesmo: morte e esquecimento.

ESQUECIMENTO

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