Há pouco, na praça de alimentação, enquanto lia minha
revista sentado à mesa e aguardava a senha avisar-me que a salada caesar estava
disponível, vi um pernilongo, ignorando solenemente o risco capital que corria,
pousar na mesa junto a mim e ficar, aparentemente, exercitando suas patinhas
(desconheço os hábitos dos pernilongos quando não estão a se deliciar com a
seiva humana). Sua desatenção ao perigo que estava exposto era tanta que ele
parecia desafiar-me: mate-me, mate-me! Um movimento súbito com a revista e ele
estaria liquidado. Entretanto, dominado por um incontrolável sentimento de
ternura, por um derrame de compaixão por aquele tão minúsculo e frágil ser,
feito um spharion, o máximo que consegui de reação, depois de uma breve
reflexão sobre a inutilidade do meu projeto assassino, foi enxota-lo suavemente
com minhas folhas de celulose plastificada, como quem lhe dava mais uma chance
de se aventurar e arriscar mais um banquete com o sumo de alguma pele
desprevenida, antes de final e irremediavelmente ser despachado para o reino
dos desencarnados, em um futuro próximo.
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