Uma pessoa amiga me disse algumas palavras duras ontem e eu fiquei
muito chateado. Mais tarde se arrependeu e me pediu perdão. Eu, ofendido, não a
perdoei. Passei a noite remoendo aqui. Foi então que recebi a visita de um anjo
me dizendo que minha bênção estava no baú que ele carregava, mas que, por causa
do meu pecado oculto, eu não a receberia.
Passei a noite lutando com o anjo para que me desse a bênção, ou
melhor, o baú, a despeito do meu orgulho por não reconhecer meu pecado não
confessado. Lutei muito tempo sem conseguir subtrair-lhe o baú da minha bênção.
Até que, depois de muito lutar, consegui tomar o seu baú.
O anjo, zombeteiramente, fez uma dancinha e me disse: “Mas eu ainda
tenho a chave, la, la, la, la, laaaa, la!”
Enfurecido, lancei-me sobre ele e nos engalfinhamos na luta
novamente, dessa vez para que minha bênção fosse completa: a chave! Depois de
muito lutar, consegui tocar na junta do seu cotovelo, desloquei-a com uma
luxação, a chave caiu no chão, peguei-a e dei no pé.
O anjo, que se chamava Elias, começou a urrar de dor por causa da
sua súbita luxação e, enquanto eu escapava, praguejou para que ursas saíssem da
mata e me devorassem. Por sorte o anjo não se chamava Eliseu. Não fosse isso,
as ursas – que só ouvem a voz do seu pastor – teriam atendido a seu apelo e eu
não estaria aqui para contar a história desse livramento e frustração também, o
que eu esclareço a seguir.
Pois bem, vejam como Deus tem seus mistérios: de posse da chave da bênção,
abri o baú e havia um pergaminho ardente que não se consumia. Cuidadosamente,
para não queimar os dedos, abri-o e havia apenas uma mensagem:
“Perdeu, neguinho – negão não, porque você é baixinho, playboy não,
porque você não é branco: quem tem olhos e sabedoria que leia e decifre esse
enigma – mas, voltando à mula fria, perdeu, neguinho: se você tivesse perdoado 70
dividido por 70 vezes a pessoa que lhe ofendeu e depois se arrependeu, em vez
desse pergaminho ardente, teria um reluzente pote de ouro, sua bênção, ou quem
sabe as próximas dezenas da megassena.”
Tão logo terminei a leitura, o pergaminho escapou de minha mão,
abrigou-se dentro do baú que se fechou automaticamente, transformou-se em uma
carruagem de fogo e foi assunto ao céu, como um raio que vai do oriente ao
ocidente.
Eu fiquei a ver navios mas aprendi a lição: procurei a pessoa que me
ofendeu, pedi-lhe perdão, assim como lhe perdoei os seus pecados. Porque, da
próxima vez que cruzar com o anjo, ele não me escapa, o danado.
Portanto, fica a dica dessa minha experiência:
Seja pronto para perdoar
e tardio para se ofender
e desfrute de todas as bênçãos
que a Fortuna tem preparado para você.
Seja pronto para perdoar
e tardio para se ofender
e desfrute de todas as bênçãos
que a Fortuna tem preparado para você.
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