domingo, 15 de janeiro de 2017

Waze, simulacro da experiência religiosa

Não sei se porque tinha tomado uma taça de vinho antes de buscar o Vitor na sua prova do vestibular Unicamp e já estava meio brisado, mas me ocorreu uma ideia interessante ao voltar da faculdade e observar o caminho sugerido pelo Waze até o posto de gasolina.

Eu sempre utilizo o Waze mesmo nas rotas conhecidas. A questão é que quase sempre há opções e escolher as opções de rota disponíveis implica em lidar com dilemas, já que uma rota escolhida pode ter algum problema e pode bater arrependimento de não se ter escolhido outra. Daí eu simplesmente delego a escolha da rota ao Waze. Se houver problema, pode ser que a outra rota estivesse pior, já que o algoritmo do Waze escolhe, em tese, a melhor rota: a tendência é acreditar que o Waze escolheu o que é melhor para minha rota. E mesmo que não seja a melhor rota, sempre há a possibilidade de colocar a culpa no Waze, já que a escolha não foi minha. Também há um benefício adicional: não preciso ficar pensando no caminho a escolher, o Waze o faz por mim.

O paralelo com a atitude religiosa me pareceu muito evidente (acho que vou tomar mais vinho, gostei da brisa). Em um sentido específico, a religião não é exatamente isso, delegar (ou achar que se está delegando) a uma divindade nossas escolhas? Se achamos que a divindade escolheu e não nós, se algo não sai exatamente como gostaríamos, sempre há a possibilidade de conforto do “Deus tem seus mistérios”, “foi a vontade de Deus”. Então, pensando bem, é uma maneira muito fácil de lidar com a vida, quando acreditamos que estamos sendo tutelados por uma divindade: nada dará errado, afinal, Deus está no comando. E se der muito errado, sempre há a possibilidade de colocar a culpa no diabo, aquele desgraçado!

Adoremos o deus Waze. Aleluia!

Nenhum comentário:

Postar um comentário