sábado, 26 de janeiro de 2019

A morte do outro e a resistência

Ontem resolvi entrar em uma página de apoiadores do Bolsonaro pra ver o que eles diziam da decisão de Jean Wyllys sair do país. Fiquei estarrecido. Não consegui ler muita coisa. Saí.

Essa terrível experiência me deixou pensativo. Por que essas pessoas destilam tanto ódio? É certo que pessoas mais conservadoras e de direita, por uma questão de perfil psicológico, têm mais dificuldade em lidar com o diferente, com expressões diferentes de suas bolhas, de suas experiências de vida. Isso explica essa dificuldade em aceitar o que foge do que se convencionou como padrão.

Mas, por que tanto ódio? Acredito que esse ódio sempre existiu lá, no entanto latente e minimizado por uma sensação de um melhor bem-estar coletivo. Nesse momento de crise, especialistas dizem isso aos montes, essas pessoas encontram o “outro” a culpa dos seus problemas. Por isso o ódio aumenta tanto.

Esse ódio é tão grande que essas pessoas querem que o outro morra. Querem destruir o outro, “culpado” por suas desilusões. Mas em vez de dizer “morre, desgraçado!”, que é muito literal, sublimam, metaforizam: “Vai pra Cuba!” Então, essas frases de ordem expressam esse incontrolável desejo de destruir o outro e que expressá-lo literalmente pode gerar muita reação negativa. Então se deseja que vá pra Cuba, pra Venezuela, pra Coreia do Norte. Porque, na mente dessas pessoas, se existe um inferno digno dessas “desgraças” (como vi alguém xingar Marielle), são regimes “comunistas”. Lá elas ficarão agonizantes, se não mortas, castigo merecido por serem quem são.

É preciso parar com isso. Esses discursos de ódio, explícitos ou velados, essa comemoração quando o outro de alguma forma é eliminado (a saída de Jean Wyllys é uma forma de eliminação para essas pessoas), tudo isso deve parar. Desde o atual presidente, seus filhos, autoridades ou quaisquer brasileiros nas redes sociais.

Algumas pessoas já me acusaram de querer “eliminar”o atual presidente. Longe de mim. Não quero. Eu apenas quero que ele seja capaz de viver em uma sociedade plural, democrática. Que seja capaz de praticar a alteridade, a empatia. Não só ele, mas todos os que veem nele a realização de seus desejos. Precisamos aprender a conviver com os diferentes de nós. Porque o Brasil é a soma de todos nós, com nossas diferenças também, um país de imigrantes, de tantas visões de mundo diferentes. Não é eliminando ou querendo a morte do diferente que esse país subsistirá.

Mais do que escolher melhor os políticos, precisamos mudar quem somos. Precisamos ser capazes de aceitar o outro naquilo que ele é diferente de nós. Precisamos parar de culpar o outro por nossos fracassos, nossas desgraças. Precisamos assumir nossa responsabilidade nessa tragédia toda.

Alguns me dizem que sou utópico demais. Eu penso que o que nos move em direção à dignidade é a utopia. É “acreditar”, mesmo que isso jamais ocorra, que um dia teremos um país onde todos se respeitarão. Isso dificilmente acontecerá e, se um dia estivermos próximos disso, eu já terei morrido há muito tempo.

Mas acreditar que essa deve ser nossa régua, esse deve ser nosso objetivo, essa deve ser nossa utopia, nos torna inconformados com essa devastação de afetos, com esse ódio generalizado, e nos dará alento na luta contra tudo isso, na procura de um país mais humano, mais justo, mais empático. Isso eu chamo de resistência.

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