domingo, 3 de fevereiro de 2019

O secular

Eu sempre digo para meus interlocutores: “Se acreditar que um gnomo de jardim seja algum tipo de divindade lhe faz uma pessoa melhor, mais compassiva, mais equilibrada, capaz de aceitar as demais pessoas diferentes, você está no caminho certo. Se acreditar no Deus de Abraão, Isaque e Jacó lhe faz uma pessoa intolerante com os diferentes, motiva-lhe a mandar as pessoas para o inferno, faz de você alguém que se julga o único capaz de saber a verdade, sua crença é disfuncional.”


Abaixo, trecho do livro “21 lições para o século 21” de Yuval Harari:

O que significa ser secular? O secularismo às vezes é definido como negação da religião, e as pessoas seculares são, portanto, caracterizadas por aquilo em que não acreditam e não fazem. De acordo com essa definição, as pessoas seculares não acreditam em deuses ou anjos, não frequentam igrejas e templos e não realizam ritos ou rituais. Como tal, o mundo secular parece oco, niilista e amoral — uma caixa vazia esperando ser preenchida por algo.

Poucas pessoas adotariam uma identidade negativa. Secularistas autoprofessados veem o secularismo de maneira muito diferente. Para eles, o secularismo é uma visão de mundo muito positiva e ativa, definida por um código de valores coerentes, e não pela oposição a esta ou aquela religião. Realmente, muitos dos valores seculares são compartilhados por várias tradições religiosas. Salvo algumas seitas que insistem em que têm o monopólio de toda a sabedoria e toda a bondade, uma das principais características das pessoas seculares é que elas não reivindicam esse monopólio. Não pensam que moralidade e sabedoria tenham descido do céu num lugar e tempo específicos. E sim que moralidade e sabedoria são o legado natural de todos os humanos. Daí, só se poderia esperar que ao menos alguns valores surgissem nas sociedades Poucas pessoas adotariam uma identidade negativa. Secularistas autoprofessados veem o secularismo de maneira muito diferente. Para eles, o secularismo é uma visão de mundo muito positiva e ativa, definida por um código de valores coerentes, e não pela oposição a esta ou aquela religião. Realmente, muitos dos valores seculares são compartilhados por várias tradições religiosas. Salvo algumas seitas que insistem em que têm o monopólio de toda a sabedoria e toda a bondade, uma das principais características das pessoas seculares é que elas não reivindicam esse monopólio. Não pensam que moralidade e sabedoria tenham descido do céu num lugar e tempo específicos. E sim que moralidade e sabedoria são o legado natural de todos os humanos. Daí, só se poderia esperar que ao menos alguns valores surgissem nas sociedades humanas por todo o mundo, e fossem comuns a muçulmanos, cristãos, hindus e ateus.

Líderes religiosos frequentemente defrontam seus seguidores com uma rigorosa escolha na forma “ou isso ou aquilo” — ou vocês são muçulmanos ou não são. E, se são muçulmanos, devem rejeitar todas as outras doutrinas. Em contraste, as pessoas seculares sentem-se confortáveis com múltiplas identidades híbridas. No que concerne ao secularismo, você pode continuar se dizendo muçulmano e continuar a rezar para Alá, comer alimentos halal e fazer o haj, a peregrinação a Meca — e ainda ser um bom membro da sociedade secular, contanto que adote o código ético secular. Esse código — que na verdade é aceito por milhões de muçulmanos, cristãos e hindus assim como por ateus — cultua valores como liberdade, compaixão, igualdade, coragem e responsabilidade. Constitui o fundamento das modernas instituições científicas e democráticas.

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