terça-feira, 17 de setembro de 2019

Astrologia e fé religiosa


Estava assistindo um documentário sobre astrologia e vi alguns aspectos bem interessantes.


A astrologia caiu no ostracismo aos poucos na medida em que a nascente astronomia passou a estudar os astros celestes de forma científica, não mística e, no início do século XX, a astrologia teve um súbito “revival” na Inglaterra, depois nos EUA e, por fim, tomou todo o mundo, culminando nos níveis de popularidade de hoje em dia.

Descobri que um tal de “efeito barnum” (ou falácia da validação pessoal) é usado para explicar a alta aceitação da astrologia, algo que sempre me pareceu óbvio demais e que sempre expus aos meus amigos entusiastas da astrologia: “as pessoas julgam exageradamente corretas as avaliações de suas personalidades que, supostamente, são feitas exclusivamente para elas mas que na verdade são vagas e genéricas o bastante para se aplicarem a uma grande quantidade de pessoas” (wikipedia). Para mim, não existe descrição melhor para esses perfis de astrologia. Eu sempre digo para meus amigos que tentam me convencer que meu perfil bate perfeitamente com o signo de áries que, de fato, bate, mas bate também em muitos aspectos com os outros signos; logo, a ilusão de que áries é perfeito para mim dependerá da minha crença nisso. E se eu acreditar muito, abracadabra!, a “mágica” acontece.

No documentário eles também diziam do efeito placebo que tais conselhos astrológicos causam. Outro aspecto óbvio, assim como ocorre com a fé: eu acredito tanto em algo que minha disposição muda em relação a esse algo. Não posso deixar de admitir que, se o que me diz a recomendação astrológica ou profecia religiosa é algo bom, saudável, então o efeito não será ruim. Muito pelo contrário, pode até me impedir de fazer alguma merda. Logo, se eu preciso de conselhos astrológicos para não boicotar minha vida, então é melhor que não tê-los.

Outro aspecto interessante que o documentário falou e que eu vejo muito é a explicação do enorme sucesso da astrologia nos EUA. Isso se deveria ao fato de que as pessoas naquele país estão se tornando cada vez menos religiosas, menos ligadas às religiões tradicionais. No entanto, elas continuam procurando algum tipo de espiritualidade e a crença na astrologia acaba preenchendo esse vácuo. É algo bem interessante que eu posso, de repente, utilizar como explicação para tantos amigos meus dantes religiosos e avessos à astrologia e que hoje, distantes de suas religiões de origem, cada dia mais se entusiasmam com a astrologia. Faz sentido pensar que a astrologia acaba fornecendo o misticismo que eles abandonaram parcialmente ao se afastarem da prática religiosa onde foram criados.

Então é isso: a astrologia acaba servindo como substituto místico às nossas crenças religiosas. Quando o crente começa a questionar certos dogmas que aprendeu durante toda a vida e já não se sente mais à vontade de fazer afirmações peremptórias defendendo tais dogmas, parte razoável do misticismo que ele cultiva é destruído. Talvez isso o leve a abraçar a astrologia caso ele necessite de uma boa dose de misticismo para dar sentido à sua vida, para se sentir especial, acolhido, o centro de alguma coisa. Talvez, no fundo, tudo o que desejamos é isso mesmo: sentirmo-nos especiais, o centro do universo. E se entramos em crise com nossa fé primeva, a astrologia acaba fornecendo o que ansiamos e, por isso, muitos de nós nos jogamos nos seus braços felizes e contentes. Porque é muito chato (e doloroso até) termos consciência da nossa insignificância no universo.

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