quinta-feira, 25 de junho de 2020

Felipe e a literatura


Hoje o Felipe, 11 anos, que está na avó materna, me mandou um áudio de uma composição que ele acabou de improvisar, baseada no livro de Neil Gaiman e Lorenzo Mattotti que ele leu, João e Maria.

Texto que ele me mandou acompanhando o áudio:

João e Maria Op. 9 III - Floresta dos pesadelos

Nota do autor:
Nessa parte, eu retrato duas crianças perdidas, após serem abandonas, em uma floresta, à noite, com fantasmas e demônios, olhos negros atrás das árvores os observando.
Caminhando com medo.
Um vento forte soprando entre suas pernas, perdidos, sem onde ficar, lacrimejando de tanto medo.

sexta-feira, 19 de junho de 2020

Já tive meu momento Weintraub também


Vi no noticiário que Weintraub quer sair logo do Brasil porque estaria sendo ameaçado. Mas também assumiu que tem medo de ser preso. Acredito muito mais na segunda possibilidade.
Daí me lembrei do meu 1º ano do 2º grau (na época) na então ETE Júlio de Mesquita, em Santo André. Tínhamos uma turminha e, quando tínhamos aula vaga por algum motivo, dávamos um jeitinho de escapulirmos (nem que fosse pulando o muro da escola às escondidas) e dávamos uma volta pelo centro da cidade.
Como eu era o mais baixinho da turma, a ideia era eu provocar alguém na rua. Divertíamo-nos porque a pessoa não reagia à minha provocação por causa da turma de grandalhões comigo. Até o dia em que encontramos um maluco mais maluco que a gente.
Na época a moda “new wave” estava no auge. Passamos por um cara vestido com uma calça toda quadriculada. À frente do grupo, perguntei:
- E aí, quantos quadradinhos tem nessa calça?
- Vem contar!
Não esperávamos tal reação. Meus colegas grandalhões não reagiram, ficaram mudos. Eu, por falta de alternativa, pus o rabinho no meio das pernas e passei de largo.
Depois que nos afastamos do maluco, caímos na risada. Ué, por que os grandalhões não reagiram e compraram a briga?
Enfim, de valentão, de repente, me vi obrigado a colocar o rabo no meio das pernas e sair de fininho.
Esse foi o meu momento Weintraub.
E o seu?

segunda-feira, 8 de junho de 2020

Máscara



Comprei laranja e mamão enquanto a Flávia comprava verduras e legumes.
Antes de parar na barraca, achei que ela tinha ido para o fim da feira.
Saio de frente da barraca e fico parado na calçada oposta, onde há um vão livre, quase atrás de uma barraca de utensílios domésticos.
Longe das pessoas, fico de olho no movimento, para me dar conta quando a Flávia passar retornando do fim de feira.
Um casal de pretos se aproxima.
- Moço, quanto está o chinelo?
- Hoje está de graça, pode levar.
O feirante, que atende outra pessoa, fuzila-me com o olhar.
Mentira. Meu raciocínio não foi tão rápido o suficiente para me propiciar esse momento de divertimento.
Sorrio levemente com meu sorriso preto debaixo de minha máscara preta e o leve meneio de minha cabeça completa a mensagem para ela, que aparentemente sorri de volta seu sorriso preto, quem sabe emoldurado por seus quem sabe belos e alvos dentes, por baixo de sua máscara florida.
O marido a tudo acompanha, silencioso, debaixo de sua máscara cujas características não são captadas por mim, afinal meus sentidos estão sugados pelo diálogo com sua mulher, como sói ocorrer em situações equivalentes.
O feirante, um improvável japonês para aquele tipo de barraca, com traços nordestinos termina de atender outro cliente, informa-lhe o preço, ela agradece e desaparece com o marido preto cuja cor da máscara não fui capaz de observar.
O feirante que, pensando bem – não será um nordestino de ascendência indígena? Isso realmente parece mais provável – continua seu labor com sua máscara preta com o brasão corintiano, agora que meus sentidos estão desbloqueados, sou capaz de observar esse detalhe.
É, parece que a Flávia não foi para o fim da feira. Melhor ir para o carro. Ela deve estar lá me esperando.