sexta-feira, 26 de abril de 2019

Bolsonaro acertou sem querer

Numa surreal atitude de ingerência e autoritarismo, Bolsonaro acertou sem querer quando obrigou que o comercial do Banco do Brasil saísse do ar. Por alguns motivos. Primeiro, porque ele deixa cada vez mais claro, o quanto é obtuso, preconceituoso e totalmente fora da realidade brasileira. Como disse José Simão, para Bolsonaro gente descolada, com rastafari, tatuada, de skate não pode; tem que ter camiseta da seleção de futebol masculina brasileira e arminha na mão. Segundo, essa atitude inacreditável deu mais visibilidade à questão do preconceito e exclusão. Excluindo os bolsominions doentes, pessoas com pelo menos alguma capacidade de reflexão poderão perceber melhor como esse tipo de preconceito não faz o menor sentido. Terceiro, e o mais importante para mim, é justamente o que levou a criação do comercial. O Banco do Brasil, preocupado com o crescimento das fintechs junto a esse público mais jovem e descolado, fez uma peça de marketing para atraí-los. Ocorre que as fintechs são empresas com muita tecnologia embarcada que conseguem custos menores que esses paquidermes tradicionais, que são os bancos brasileiros, que vivem a sugar o dinheiro do cidadão. As fintechs, com sua proposta, conseguem ser interessantes a um público que não se beneficia do sistema bancário tradicional ou mesmo aqueles que usam os bancos tradicionais mas querem serviços com taxas mais competitivas (ou sem taxas). As fintechs, nesse sentido, são ferramentas de inclusão para brasileiros mais pobres e/ou antenados. O Banco do Brasil, percebendo isso, tentou criar um marketing para atrair essas pessoas para serviços que são menos interessantes para elas. Bolsonaro, com sua já conhecida visão limitada e preconceituosa da realidade, rechaçou tal iniciativa: “não queremos atrair essas pessoas que não se parecem comigo, queremos brasileiros classe-média, cristãos, com arminha na mão; esse é o Brasil que queremos; essas outras pessoas queremos longe!” Ótimo! Dessa vez a estupidez habitual de Bolsonaro está fazendo justamente o que o banco não queria, diminuindo sua visibilidade junto a esse público. Bolsonaro quer ver representado no marketing do banco gente retrógrada. É bom que seja assim, porque as pessoas mais descoladas, por não se verem representadas no marketing do banco, ficarão mais ainda atraídas por alternativas mais interessante para elas. Parabéns, Bolsonaro! O Brasil agradece.

sábado, 20 de abril de 2019

A terra é plana

Sobre essa polêmica ridícula se a terra é plana ou redonda, é mais do que evidente que a terra é plana! Ela é plana protegida pela abóbada celesta, uma espécie de redoma, um escudo contra os perigos do universo e impede que caiamos no abismo quando chegamos nos limites dela. Por isso mesmo nunca temos notícias sobre acidentes trágicos de navios ou quaisquer outros meios de transporte que tenham desaparecido subitamente quando chegam nos limites da terra plana, criada por deus em 7 dias. Talvez esse seja um conceito complicado, mas tem um filme muito bom que demonstra de forma bastante simples e de fácil compreensão a ideia: "O show de Truman". Filmaço. Recomendo!

sexta-feira, 19 de abril de 2019

Pulou fora por ter caído a ficha ou para não passar vergonha?

Quando assisti a série dele na Netflix, pensei: "Caramba, como esse cara pode ser tão ingênuo?" Porque, mesmo não fazendo uma narrativa mocinhos contra bandidos infantilizada, como é a leitura que os moronetes fazem, estava claro que ele via essa disputa "moro x 'corruptos'" de forma muito maniqueísta, a "República de Curitiba" do lado do "bem". Impressionante como um diretor tão sofisticado caísse nesse tipo de bobagem, tolice. Até ele tinha sido seduzido por essa polarização burra.
Mas o ele mostrou, ainda que um pouco tardiamente, que não é tão ingênuo quanto parecia. Pulou a tempo dessa tosca armadilha.

domingo, 14 de abril de 2019

Dois especialistas em futebol

Na sala de TV, estou assistindo o final do primeiro tempo de São Paulo x Corinthians.
Felipe entra.
Depois de alguns instantes:
- Pai, o Corinthians está pior esse ano, né?
- ...
Não sei o que responder. Será que ele ouviu isso de algum coleguinha na escola?
A câmera faz um zoom onde dá para ver bem um jogador do São Paulo, seu uniforme, o brasão. Penso que, na hipótese remota de ele não saber quem é quem, agora não resta dúvida. Afasto a ideia. O Felipe não é tão alienado futebolisticamente assim.
- Pai, o Corinthians é o de preto ou o de branco?
😂😂😂😂

quinta-feira, 4 de abril de 2019

Unasul, Prosul e a estupidez

Há pouco, ouvindo a Rádio USP, a locutora lia as notícias e noticiou sobre Unasul. Disse que integrantes estavam reunidos – não me lembro dos detalhes – e disseram que a Unasul é uma organização “sem ideologia”. Eu disse para a Flávia: “não entendo o que se passa na cabeça desses caras; alguém que diz ser uma organização sem ideologia ou é estúpido ou é desonesto intelectualmente”.

Na sequência, a locutora passou a entrevistar um especialista da USP que explicou, dentre outras questões, que a Unasul nasce do esvaziamento da Venezuela e da mudança ideológica em boa parte dos governos ao sul do continente e que não cabe dizer que seja sem ideologia: trata-se apenas de “outra” ideologia.

Essas negações do óbvio são tão estúpidas que me incomodam. É o caso da suposta escola “sem partido”. Como assim? Uma pessoa que diz isso, se é educadora, assina seu atestado de incompetência. E tantas outras negações do óbvio que se tornaram correntes nesses dias de obscurantismo intelectual.

Anos atrás, conversando com uma amiga colombiana sobre minhas viagens ao Peru, minhas visitas aos sítios arqueológicos, museus, Machu Picchu e toda minha interação com o riquíssimo legado cultural do Peru, ela me perguntou: “Obadias, quando é que os peruanos se tornaram tão estúpidos?” Eu ri, apesar de considerar a pergunta ofensiva. Mas agora eu me faço a pergunta, sem achar graça e sem considerar ofensivo: “Quando é que nós, brasileiros, nos tornamos tão estúpidos?”

quarta-feira, 3 de abril de 2019

Treinamento para a vida

Parado com o Felipe em frente à Fundação das Artes, no meio da quadra, esperando os carros passarem.
- Pai, eles não são como você.
- Como assim?
- Você para pra todo mundo.
- Ah, é verdade.
Paro mesmo para os pedestres, mesmo que não estejam atravessando na faixa, caso a faixa mais próxima esteja longe.

Minutos mais tarde, na esquina da Gago Coutinho, quando ia entrar na Av. Palmares, uma senhora na no começo da faixa. Havia um bom movimento de carros. Parei e lhe fiz sinal para atravessar. Como é bastante comum, talvez pensando em “pode ir que o trânsito está pesado”, ela me fez sinal para seguir adiante. Insisti: “Pode atravessar!” Ela insistiu: “Vai” Respondi: “Não, por favor, pode atravessar!” Ela sorriu e atravessou na faixa seu corpanzil com passos de 3ª idade. Esperei calmamente. Do outro lado ela se voltou, sorriu e acenou como braço.

Metros abaixo, na Av. Palmares, uma senhora se aproximou da borda da rua, no meio fio, com intenção de atravessar. Portava uma sacola de feira. Parei e fiz sinal para que ela atravessasse. Ela sorriu.
- Pai, ela não estava na faixa, né?
- Verdade, mas tinha um carro estacionado em cima da faixa, não dava para ela usar.

Esse garoto, quando crescer, será um motorista civilizado, respeitoso, não usará o veículo como expressão da sua dificuldade de autoafirmação, respeitará os pedestres. Assim como já é um jovem leitor, já se aventura de vez em quando a escrever suas próprias partituras musicais e é um piadista “troller” com tendências à incorreção... kkkkkkkkkk