domingo, 20 de novembro de 2016

Reflexão sobre o Dia da Consciência Negra

No Dia da Consciência Negra, ligo a TV que está sintonizada na Globo News. Começa o programa Milenium e o entrevistado é um canadense que trabalha no "Projeto Igarapé", no Rio de Janeiro. Não consegui assistir tudo porque estava ocupado. Mas ele disse algumas coisas interessantes.

Inicialmente, perguntado sobre o motivo da violência alarmante, ele cita 4 causas:

1. urbanização muito rápida
2. desigualdade social e de renda das mais perversas do mundo
3. população jovem
4. drogas

Ele também diz que os mais altos índices de mortalidade atingem prioritariamente a população com as seguintes características: jovem, pobre, fora da escola e negra. Segundo ele, a cor da pele acaba determinando de alguma forma a exclusão social.

Somemos esse racismo e os itens 2 e 3 acima, e vemos muitos motivos para essa reflexão sobre o Dia da Consciência Negra.

Não é com repressão policial, com a lógica do bandido bom é bandido morto que vamos resolver essa tragédia tão grande.

É preciso criar políticas para distribuir renda, manter esses jovens na escola. Sobre distribuir renda, ele cita no final do programa algo que ele diz ter sido inesperado: embora o programa bolsa família pretenda incentivar a educação, acabou diminuindo os índices de violência também, porque ainda que poucos recursos nas mãos de uma população que não tem praticamente nada, fazem tanta diferença que acabam afastando parte dessa população da violência.

Taí uma reflexão, inclusive para aqueles que bradam seus discursos contra o "bolsa vagabundo" e querem que a polícia saia dando porrada em bandido. Só vamos resolver nossos problemas se os atacarmos com inteligência, não como brutamontes desmiolados.

Há muito por fazer. Há muito programa social por implementar. Há muita reforma para promover redistribuição de renda.

O foco do governo não poderia ser garantir boa vida aos mais ricos, mas investir na dignidade dos mais pobres. é por aí que esse ciclo de violência será desmontado aos poucos.


http://g1.globo.com/globo-news/milenio/videos/t/milenio/v/milenio-robert-muggah-analisa-dados-de-violencia-urbana-e-trafico-de-armas/5449285/

sábado, 29 de outubro de 2016

Sobre o ensino médio

Há 15 dias fui a um evento em que o Vitor foi premiado por se classificar no 52º lugar em um simulado da Fuvest (Fuvestão, do Colégio Objetivo) em que participaram mais de 23 mil alunos do país. Na ocasião, fiquei pensando em algumas questões que vou colocar aqui.

INDÚSTRIA DO RANKING

Recentemente soube que é comum os colégios privados criarem 2 CNPJs, cadastrarem os melhores alunos em um deles e os demais no outro. Esses  CNPJs são inscritos no ENEM e o CNPJ com os melhores alunos acaba tendo melhores classificações no ranking do que seria se as escolas utilizassem um único CNPJ com todos. Isso me pareceu uma tremenda sacanagem.

Perguntando para a coordenadora pedagógica que foi à premiação com o Vitor, ela me disse que isso teria iniciado quando o Di Genio (Objetivo) propôs um sistema de avaliação das escolas diferente do adotado no ENEM e não foi ouvido. Ele teria dito que seria mais justo se as escolas fossem avaliadas pelo quanto contribuem para a evolução do aluno. Logo, uma prova do ENEM seria feita no início do ensino médio e outra no final. Com isso, a evolução dos alunos a cursarem todo o período em uma única escola seria o parâmetro para avaliar de fato o quanto a escola teria contribuído na sua evolução. Segundo ele, o sistema atual é injusto porque avalia igualmente escolas que aplicam vestibulinhos seletivos e, com isso, aceitam somente alunos de nível mais alto, enquanto que colégios como o dele aceitam alunos de qualquer nível (desde que paguem, claro). Como não foi ouvido, em protesto passou a utilizar essa “malandragem” e foi seguido por outras escolas.

Enfim, a demanda me parece razoável, mas acredito que existe um problema maior, esse foco do ensino médio em direcionar quase todos os esforços no preparo dos alunos para o vestibular/ENEM. Escolas que busquem uma formação mais holística, que se preocupem bastante em formar cidadãos pensantes, críticos, certamente se verão preteridas por escolas cujo foco seja a melhor pontuação nesses rankings como chamariz mercadológico. No final das contas quem perde é o aluno.

Penso que o ingresso na universidade deveria utilizar outros critérios adicionais e que não ficasse restrito a notas de provas objetivas de conhecimentos que são memorizados unicamente para garantir o ingresso nela, sendo desprezados logo em seguida. Que critérios seriam esses não sei, mas acredito que a sociedade como um todo ganharia mais com cidadãos mais conscientes, politizados, e que essa consciência provocada com bastante afinco no ensino médio. E claro, políticas afirmativas não poderiam estar de fora. O que seria necessário fazer? Não sei, mas não é possível que não haja nada melhor que esse modelo atual que incentiva essa indústria dos rankings e desvirtua – na minha opinião – o ensino médio.

MÉTODO E DISCIPLINA

Sempre fui um crítico do modelo de avaliação do vestibular porque condena os alunos a decorarem uma porção de conhecimento teoricamente inútil para eles, uma vez que será imediatamente jogado fora assim que conseguirem passar em um bom vestibular.

Entretanto, observando a rotina do Vitor, mesmo no ensino básico, percebi que, apesar dessa carga de aparente conhecimento inútil, há algo de muito positivo: para conseguir bons resultados nos concursos pré universidade, é preciso se impor uma rotina de estudos que demanda bastante método e disciplina.

Eu sempre gostei de estudar temas que me interessavam. No entanto, na escola raramente peguei um livro para estudar, apesar de sempre figurar entre os dois primeiros alunos da sala. Mesmo sem estudar, obtive surpreendentes classificações no Vestibulinho na ETE Júlio de Mesquita e vestibular na atual USCS. Mas é fato que, se eu quisesse tentar a USP, por exemplo, teria que me impor uma rotina de estudos, o que nunca fiz.

No entanto, observando o Vítor, penso nos benefícios que eu teria na minha vida adulta se, na idade dele, fosse tão focado e disciplinado nos estudos, ainda que em conhecimentos quase sem aplicação na vida cotidiana, provavelmente minha vida adulta teria sido mais fácil.

Portanto, se o método e disciplina a que o Vitor se impõe o ajudarão bastante nos desafios da vida adulta, e tenho impressão que sim porque ele está habituado e um nível de disciplina que eu não possuo, todo esse esforço terá valido muito a pena, ainda que me pareça inútil esse esforço de aprender e com uma certa frequência decorar conteúdo “inútil” para uma boa colocação em um vestibular.

MERITOCRACIA

Na premiação, os alunos foram chamados de “elite estudantil” do Brasil, uma adjetivação que me pareceu razoável. Aliás, o Vitor também obteve a 48ª posição em um simulado do ENEM  em que participaram mais de 16 mil estudantes do Brasil. Nesse, ele obteve a pontuação máxima em matemática, 1 ponto abaixo da máxima em Português e Inglês, e nas demais disciplinas, esteve pouquíssimos pontos distantes das pontuações mais altas. No Fuvestão a diferença entre o primeiro colocado e ele foi de apenas 10 pontos. Então é um nível muito acirrado onde estão os melhores alunos mesmo, o que justifica a expressão “elite”.

Observando o público presente no anfiteatro onde ocorreu a premiação, pude constatar que não havia pretos. O mais “escurinho” era eu, um mestiço nem tão escuro assim. Havia um percentual de “olhinhos puxados”, em um índice maior que costumo ver nos meus contatos diários, uma parte significativa de Suzano, o que justifica o mito do “japonês CDF”. No geral, eram todos muito branquinhos.

Isso nos leva a pensar que, ou os pretos são indolentes, intelectualmente menos capacitados, ou que é muito difícil encontrar um preto fazendo parte dessa “elite” porque as condições de competição deles são muito desfavoráveis em relação aos demais. Quanto ao Vítor, ele não trabalha e tem todo o dia à disposição para estudar. Na idade dele eu já trabalhava em tempo integral havia ao menos 2 anos e estudava à noite. Se ele tivesse que passar pelas mesmas restrições que eu passei, JAMAIS faria parte dessa elite.

Por esse motivo me entristece profundamente quando vejo tantas pessoas culpando os menos favorecidos, em especial os pretos, de não conseguirem fazer parte de elites estudantis, por exemplo, porque não se esforçaram o suficiente, porque ficam de “mimimi” e ainda têm a capacidade de utilizarem exemplos absolutamente fora da curva, exceções raríssimas, muito raríssimas de pretos que chegaram lá, como o ex-ministro do STF Joaquim Barbosa. Para mim que vivi toda uma infância de estigmas – e sempre senti isso na pele– soam extremamente cruéis e injustas essas colocações, de uma cegueira e burrice inacreditável a incapacidade das pessoas de enxergarem esses mecanismos estruturais perversos. Minha alma sangra com isso. Saí de lá feliz pelo Vitor, mas decepcionado por não ver sequer um pretinho na “elite estudantil”. 

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Os pobres e a conta da crise

- O país está quebrado? Está. 
- Limitar os gastos públicos é uma medida necessária? É o mínimo, ou algo que tenha o mesmo efeito. 
- Vai custar esforço da sociedade? Sem dúvida.
- Quem vai pagar a parte mais pesada da conta? Os mais pobres.
- Não tem jeito de os mais ricos pagarem algo? Claro que tem! Aliás, eles é quem deveriam pagar a parte mais pesada porque possuem uma série de benefícios que o estado lhes oferece à custa dos mais pobres. Em outras palavras, os mais pobres pagam com a miséria a boa vida dos mais ricos.
- Ué, e por que os mais ricos não pagam ao menos parte da conta? Dê uma olhada no perfil social e de riqueza dos políticos, supostos representantes do país.

Conclusão:

Se alguém acha que votando em homens vai ajudar a defender os direitos das mulheres, está errado (somente as mulheres entendem onde o calo dói). Se alguém acha que votando em heterossexuais os direitos dos não heteronormativos serão tratados com carinho, está errado (é preciso estar na pele de um deles), etc.
Da mesma forma, o rico que se elege está preocupado com seu filho, com sua empresa, com sua fazenda. Ele vai lutar para defender os interesses de quem ele representa DE FATO. Ele não fará leis que permitam uma maior justiça social, se isso implicar diminuir 0,01% de suas riquezas.
Portanto, enquanto pobre continuar votando em rico e defendendo o ideal de vida dos mais ricos, que só beneficia eles, vai ser assim: um país na miséria e os ricos no poder fazendo leis, tomando medidas para que o país seja rico, claro, mas que toda a riqueza esteja no bolso deles.

Pobre quer ver seus direitos respeitados? Vote em pobre, que saiba o que é isso, que se sensibilize com isso. Do contrário, seja um pobre com discurso de rico e morra antes de ver seus direitos respeitados.

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

TV Troller

A TV da cozinha tem um problema: demora muito para ligar e, depois de alguns minutos, desliga sozinha. É preciso religá-la e, dessa vez, ela continua funcionando normalmente.

É incrível: sempre que está em um momento interessante de uma reportagem, a TV desliga. Fico com raiva e xingo: porcaria de TV! Corro, religo e fico torcendo para que a reportagem não tenha terminado quando a TV voltar a funcionar.

Hoje aconteceu de novo. Estava no meio de uma reportagem sobre as eleições de ontem. quando o Gilmar Mendes começou a falar, A TV desligou. Ah, ok! Continuei fazendo o café.

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Deus no controle

Comigo não tem esse papo de “Deus no controle”, não. Comigo é “Deus no controle remoto”.

Explico:

Deus, sentado no seu alto e sublime trono, no seu período eternamente sabático, uma vez que resolveu pendurar as chuteiras depois de sua última criação (achou melhor não inventar mais moda), passa seu tempo de ócio assistindo a programação na sua TV Ultra HD 16k (como é dono do ouro e da prata, tem bala na agulha para esse tipo de extravagância – não é o meu caso, por exemplo).

Obviamente que a programação é única: a enfadonha vida dos seres mais importantes do Universo: claro, nós, os terráqueos.

Sempre que eu apareço na programação da TV, ele pensa: “Aff, esse chato de novo?”

Pega o controle remoto e muda de canal.

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Medo

- Pai, por que você desligou a luz do corredor?
- Para não ficar desperdiçando energia.
- Mas eu tô com medo!
- Você já cresceu, você não tem mais medo.
- Tá bom.

Pronto, problema resolvido.

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

O assalto

(esse texto foi escrito em 2005, logo depois de ter sido assaltado; encontrei-o perdido por acaso)

Eu mereço
Ou
Como conseguir um B.O. em 1347 baforadas alheias
Ou
O que a gente não faz por um pudim de milho...
Ou
Se eu encontro aquele frango de novo... mato ele!
Ou
Viver no meio da malandragem tem suas compensações
Ou
Alegria de pobre dura pouco


Quarta-feira. 20:00. Depois de várias páginas de livro e 5 conduções, 1 ônibus, 2 metrôs, 1 trem e outro ônibus (pegar no batente não é fácil...), estava em casa, olhando para a Flávia. Que cheiro estranho... Era a metade do falecido frango que ela iria preparar para comermos. Por algum motivo desconhecido, o freezer não conseguiu manter o presunto com um cheiro agradável (frango quando morre também vira presunto?).  Em face a esse acontecimento e outro de igual relevância – a sogra havia feito um pudim de milho para seu genro preferido – resolvemos ir jantar . Aliás, meu cunhado não concorda que eu seja o genro preferido porque, segundo ele, o genro preferido é aquele que não aparece. Segundo esse raciocínio, eu sou o genro despreferido.

Como eu tinha que preparar um documento para enviar a um cliente e ainda deixar uma rotina de outro cliente executando via Terminal Services (um tipo de conexão remota a servidor), deixei meu notebook rodando a rotina e fui para a casa da sogra somente com a mochila de notebook recém-comprada e algumas coisas dentro, inclusive um livro que ia devolver ao cunhado.

Jantamos e, 21:30, resolvemos ir embora. Como a sogra estava gripada, não nos acompanhou até o portão. Eu saí, abri o portão, voltei com a chave, saímos, a Flávia, o Vítor e eu e tranquei o portão do lado de fora.

Tudo foi muito rápido.

De repente, surgidos do nada, eis que 4 indivíduos, liderados por um deles, nos assaltaram. O líder do grupo veio cheio de adrenalina:

- E , filho da puta, tá armado? Passa a chave do carro! Rápido, filho da puta!

Os outros ficaram mais próximos. Rapidamente, tomaram a chave do meu carro, minha mochila, a mochila do Vítor que estava com a Flávia e uma tartaruga de pelúcia que o Vítor carregava. não levaram o Snoop que o Vítor também portava. Ele explicou mais tarde o motivo: escondera atrás do corpo.

Tão rápido quanto chegaram, pediram para que ficássemos de costas, entraram no carro e saíram cantando os pneus.

A Flávia chamou o pessoal que estava dentro de casa, o cunhado abriu o portão. Ela estava passando mal e, lívida e largada no sofá, foi atendida com um copoágua preparado pelo cunhado, que antes, se deu ao trabalho de ligar no 190 para que eu pudesse comunicar o roubo. Prestíssimo e eficiente esse cunhado!

O Vítor, como seria de se esperar de uma criança de 5 anos, chorou assustado e rapidamente entendeu que se tratava de um assalto.

Em seguida a sogra-avó chegou da igreja e suspirou aliviada por constatar que não tinha chegado minutinhos antes. Quem sabe o que poderia ter acontecido...

O sogro, comunicado da “efeméridepelo celular, rapidamente fechou seu ponto comercial em algum shopping da cidade e foi para casa o mais rápido que pôde, ou seja, em cerca de 30 minutos. Embarcamos eu e a Flávia – o Vítor ficou protestando porque queria ir também para ver os presos – e fomos até a delegacia da cidade.

Ah... tudo isso aconteceu na cidade de Mauá.

Bem, na delegacia, no centro da cidade, como não seria de se admirar, não fomos atendidos imediatamente. Eles estavam lavrando um flagrante com 3 envolvidos, um deles uma moça com uma barriga grávida de 8 meses. Um dos rapazes estava algemado. O outro não vi. Ela não. No máximo o policial pediu que ela ficasse encostada na parede com as mãos para trás. Imaginei que fosse um tratamento diferenciado em face à vida que se estava se desenvolvendo dentro dela. Um tratamento mais nobre, digamos assim.

Somado ao flagrante, um outro acontecimento de menor importância levou a escrivã de plantão sugerir que voltássemos no dia seguinte, que, provavelmente, demoraríamos muuuuito para sermos atendido: as fortes chuvas do dia haviam derrubado o sistema.

bom. Fazer o que. Amanhã a gente volta. Embarcamos na caranga do sogro, gente finésima que, prontamente, ao regressarmos à sua casa, me emprestou o carro para que, no dia seguinte, voltasse motorizado à delegacia que fica muito mais próxima da casa dele que da minha.

Ah... eu moro em Santo André.

Voltamos para casa. Reparei que o carro do meu sogro, apesar de bem mais antigo que o meu, é mais mal educado: você pisa e ele responde mesmo! É um Escort 1.8. O motorzinho da caranga tá bom! Entre um detalhe e outro do acontecimento que repassamos umas 357 vezes no caminho de casa, chegamos.

Ah... eu também tinha avisado ao porteiro do meu edifício que, se o meu carro chegasse , eles poderiam chamar a polícia, que eram os bandidos. Não esperava que os caras fossem tão loucos assim, mas nunca se sabe... Nos pertences que eles levaram estava meu endereço.

Ao chegar em casa, contamos o acontecido ao porteiro, que nos dias seguintes se encarregou de avisar a torcida do Corinthians, o que era de se esperar de um porteiro que se respeite. Até hoje tem neguinho no prédio perguntando: “Ah... vocês foram assaltados?”, apesar de termos posto uma pedra em cima do assunto. pode ter sido obra e graça do porteiro.

Enquanto voltávamos, agradeci a Deus pela quase desgraça alcançada: não nos aconteceu nada. levaram os anéis. E também fiquei tentado, apesar de não ter tido cara-de-pau suficiente, a agradecer pelo incidente haver acontecido num momento tão propício: havia 4 anos que eu comprara o veículo e está mais do que na hora de trocá-lo. Vendê-lo seria menos rentável que uma indenização do seguro por perda total, suponho. Portanto, que ótimo momento para ser roubado...

Ao chegar em casa, depois de mandar um e-mail para o cliente, justificando minha ausência no dia seguinte pois teria que correr atrás do B.O., quando me preparava para ir tomar banho... o telefone toca: “Sr. Obadias? Aqui é a PM. Seu veículo foi localizado!”.


Não acredito! Alegria de pobre dura pouco... 

domingo, 11 de setembro de 2016

Pablo Escobar, el gringo del mal


Quando assisti "Pablo Escobar, el patrón del mal", fui invadido por um sentimento de nostalgia, saudades da minha querida Colômbia, regozijo de rever aquele modo de falar tão peculiar, as gírias, tudo. O seriado é delicioso e, mesmo que sua produção seja inferior à de Narcos, para mim o resultado final é muito superior.

Por vezes, quando estou assistindo Narcos, apesar de gostar bastante da série, a sensação de “fake” é muito grande. Como, por exemplo, essa cena de um enterro. Nunca fui a um enterro de um oficial colombiano, mas fiquei com a impressão de que a cena foi construída como se tivesse acontecido nos EUA.

Lembro-me de uma cena de enterro em Pablo Escobar com a cara típica da Colômbia. Nem um pouco parecida com esse clima anglo-saxão dessa cena de Narcos.

Outra vez que a sensação de estar vendo algo muito “fake” foi uma cena em que assessores estão reunidos e o presidente da Colômbia entra na sala. Todos ficam de pé. Fiquei pensando: será que isso acontece mesmo na Colômbia ou os caras não conseguiram entrar no ambiente colombiano? Isso é comum na dramaturgia norte-americana porque isso deve acontecer lá. Esse tipo de reverência ocorre na América Latina? Confesso que não sei, mas me parece algo deslocado de nossa realidade.

Por fim, algo que me sempre me incomodou bastante foi o sotaque horroroso do Wagner Moura na 1ª temporada. Achei que ele deu uma boa melhorada na 2ª. Na primeira me dava aflição ouvir.

Apesar disso, Narcos é uma série muito boa também. Não se pode esquecer que está mostrando a história a partir do ponto de vista dos norte-americanos.

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Sobre nossos pais e o que resta deles

Sempre aceitei o envelhecimento de meus pais, sua decrepitude e morte como um fato inexorável da vida. Sempre pensei a respeito e sempre me preparei para isso, psicologicamente falando.

Em princípio, sempre encarei a morte deles numa boa.

A única vez que eu fiquei abalado mesmo foi quando meu pai teve seu primeiro derrame e o vi deitado em uma cama do hospital. Saí para fora e chorei.

Depois daquele evento, talvez por ter sido meu primeiro contato com a fragilidade e finitude do meu pai, encarei os demais eventos com mais calma e naturalidade.

Quando ele morreu, cuidei dos aspectos mais chatos como fazer o seu reconhecimento no necrotério, já sem vida, levando as roupas que ele usaria, cuidar dos aspectos burocráticos com a funerária e tudo o mais. Nas visitas ao hospital, na semana que antecedeu sua morte, eu o via todo entubado, apagado, mas aceitava como uma espécie de rito de passagem. Confortava-me pelo fato de ele não parecer estar sofrendo.

Só me desestabilizei novamente quando o seu caixão foi fechado pela última vez no cemitério. Fui amparado por um amigo, o Eliézer Venâncio. Incrível como a gente não esquece essas coisas. Meu amigo ficará marcado para sempre na minha história por aquele simples gesto. Não me desestabilizei nos demais eventos não porque me quis fazer de forte, mas por essa forma racionalizada de encarar nosso ciclo de nascimento, existência e morte.

Quando da sua exumação, lá eu estava novamente fazendo toda a parte burocrática: pagar as taxas, acompanhar o desenterrar de seus ossos, colocá-lo em um ossário perpétuo. Peguei seus restos mortais e, enquanto íamos para o ossário, só me ocorreu sorrir e lhe dizer algumas vezes: "Grande Cição!"


Isso foi tudo. O seu legado mais importante está dentro de mim.

sábado, 27 de agosto de 2016

Golpe ou farsa?

Tenho acompanhando as seções de julgamento do impeachment e estou tão impressionado que por vezes pensei em escrever um textão.
Mas não preciso, deixo o "Le Monde" falar. É bom lembrar que observadores estrangeiros conseguem analisar mais friamente a questão sem entrar nesse fla-flu passional.
Embora nunca tenha votado na Dilma e não ser um admirador do PT, desde o início desse processo era obviamente ululante sua farsa. Já escrevi algumas vezes sobre isso. Eu sei que os antipetistas, por quase todos nutrirem um ódio patológico ao PT, não terão discernimento ou honestidade suficientes para reconhecerem a farsa. Eu, da minha posição de "isentão", tenho mais facilidade.
Lamento pelo Brasil, porque parece que temos um apreço por tomarmos sempre a pior via na história, mas, de minha parte, terei orgulho de dizer aos meus possíveis netos, quando os dias de hoje forem olhados pelo crivo da história, que não fiz parte dessa farsa.

http://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/le-monde/2016/08/27/opiniao-queda-de-dilma-ou-e-golpe-de-estado-ou-e-farsa.htm

Ao candidato que possa se interessar

Estou em busca de um candidato que me represente. 

Além das questões mais objetivas (problemas do município, por exemplo, no caso de vereadores) que eu gostaria de saber por meio do plano de governo, há algumas questões universais que, caso V. Sa. que sonha ser V.  Exa., não atenda, nem precisa gastar suas energias comigo.

São elas:

  1. Considerar que deve haver separação entre religião e estado
  2. Considerar que suas bandeiras religiosas são válidas desde que não impliquem em desumanizar, estigmatizar, diminuir pessoas de outros credos religiosos ou morais (por exemplo, querer impedir, por meio de lei, que homossexuais se casem e adotem filhos é uma maneira bem efetiva de desumanizá-los, obriga-los a viver de acordo com suas crenças pessoais, não as deles, em uma sociedade que se pretende pluralista)
  3. Entender que existe um desequilíbrio social colossal entre brancos e negros/indígenas, vergonhoso legado do Brasil que foi o último país do ocidente a abolir a escravatura, e não se trata de dívida dos antepassados que deve ser paga pelos seus descendentes, mas simplesmente criar mecanismos para que as populações dantes escravas consigam competir em pé de igualdade com as populações brancas, já que é inquestionável o estigma e preconceito da sociedade contra essas populações: basta olhar os números sociais, econômicos e profissionais para constatar isso.
  4. Ser honesto o suficiente para abraçar bandeiras legítimas anticorrupção e fazer parte dos cidadãos que condenam indignação seletiva contra a corrupção e que se posicione como alguém que cobre das instâncias investigativas do poder público que a mesma sanha investigativa contra os corruptos do PT seja aplicada aos corruptos dos outros partidos, em especial a Lava Jato que dá claros sinais há tempos de que políticos de outros partidos contarão com a benevolência dos agentes públicos.
  5. Dar prioridade nos seus projetos políticos à educação, em especial a dos primeiros anos de vida, pois é onde o país patina em todas as instâncias, há décadas. Sem uma população bem educada, sempre ficaremos à margem da História.
  6. Esteja preparado culturalmente, não necessariamente na educação formal, para ser um político que eleve o padrão de nossos representantes. Que se interesse de fato em se aprofundar na atividade pública que vai exercer e que não encare isso como uma maneira de ganhar dinheiro fácil.
  7. Que seja um signatário incansável da reforma política tão necessária para acabar com essa orgia interminável que são os mandatos políticos. Há uma série de propostas em discussão, mas os políticos não têm interesse para não acabar com a mamata a que estão acostumados. Que você seja claramente, e não demagogicamente, contra isso.
  8. Independente da conjuntura econômica e política do país e do fato que a economia depende do empreendedorismo em todos os níveis, e independente da sua posição ideológica, entenda que é preciso ter políticas para fomentar todo tipo de negócio no país, mas nunca em prejuízo dos mais pobres, nunca à custa de explorá-los, aproveitando-se de sua condição de fragilidade. Ao contrário, os projetos deverão ser, sempre que possível, mais voltados para eles que para os com maior poder econômico.
  9. Por fim, você deve ser alguém com consciência ecológica, preocupado com a situação de degradação crescente que se encontra nosso planeta.



Se você se encaixa nesse perfil, terei o maior prazer em conhecer seu projeto político. Do contrário, muito obrigado. Se não encontrar nenhum candidato que cumpra com esses requisitos mínimos, terei o maior prazer em votar nulo.

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Uma utopia cristã

- Pai, eu queria nascer daqui 1000 anos.
- Por quê?
- Porque daqui 1000 anos não vai ter ladrão.
- Quem disse isso?
- *** me contou. Falaram na igreja, da palavra de Deus, a bíblia. Eles avisaram.

domingo, 24 de julho de 2016

Na loja

Eu havia retornado de uma pedalada quando a Flávia me ligou da sua caminhada:
- Pode me buscar na loja tal que eu passei aqui para comprar um carregador de tablet? Aproveita e traz o seu tablet para testar?
Descasquei uma pokan, coloquei-a em um pote, tablet, chave do carro, dirigi até a loja. Vestia tênis, calça do agasalho esportivo e uma camiseta desbotada. Estacionei do outro lado da rua, um pouco mais à frente da loja, atravessei a rua e voltei pela calçada, displicente, tablet debaixo do braço e pote com a pokan na outra mão.
Pensando na vida, sabe-se lá em que, fui entrando na loja. O segurança me barrou:
- O que você quer?
Supreso, não entendi. Olhei para sua cara, desconfiado, meio rindo, acreditando que era alguém que me conhecia e estava fazendo uma brincadeira. Não raro me deparo com pessoas que me conhecem, conversam comigo e eu fico disfarçando tentando me lembrar de quem se trata. Acreditei que estava acontecendo de novo.
Olhei para a cara dele tentando reconhece-lo e entrar na brincadeira, mas ele ficou impassivo. Definitivamente aquilo era um jogo. A Flavia estava mais ao fundo da loja e, quando me viu barrado na porta, se aproximou. Como eu estava naquela situação indefinida, sem reconhecer a pessoa, joguei a toalha, esperando não ter estragado a brincadeira:
- Vim falar com minha esposa – e apontei para a Flávia.
Foi então que ele me deixou passar.
Olhei para a Flavia, sem entender nada, e foi então que eu percebi que o que tinha acontecido.
O tempo que precisei para entender o episódio, foi o que levei para me aproximar do balcão.
- Sandra!

A loja é de amigos da infância. Não nos víamos há um bom tempo. Enquanto concretizávamos a compra, colocamos as notícias em dia e atualizamos o status a respeito dos parentes: e sua mãe? E sua tia? Seu irmão apareceu, inicialmente não o reconheci, embora ele tenha me reconhecido. Enfim, foi um reencontro agradável, enquanto desfrutava da pokan que estava uma delícia.

Senso comum

Comportamento de manada é um traço dos animais, inclusive os humanos, não? Penso que aderir ao senso comum é uma manifestação desse comportamento. É algo irracional e instintivo. Então, se insurgir contra o senso comum é algo que vai contra nossos próprios instintos. Quando tentamos sair do senso comum, passamos às demais pessoas uma mensagem de inadequação, inconveniência.

terça-feira, 19 de julho de 2016

Delírios

Certa vez cheguei em um cliente, anos atrás, com o livro "Deus, um delírio" debaixo do braço. - Que livro é esse que você está lendo? - perguntou-me o segurança, simpático, que já me conhecia de visitas anteriores. - Deus, um delírio. - Deus um delírio? - O autor sugere que Deus não existe e seja resultado do delírio da mente humana. Ele me olhou assim, como se suspeitasse, de repente, que eu estivesse com ebola: - Mas você não é ateu, é? Eu poderia ter esticado a conversa dizendo para ele que sim, apenas pelo prazer de ver onde aquilo iria parar, mas eu estava com pressa: - Não, não sou. De repente o sol voltou a brilhar novamente no olhar do segurança, que suspirou aliviado. (inspirado no meu amigo Thiago Mendanha)

terça-feira, 12 de julho de 2016

Futuro

- Pai, quando você ficar idoso vai vender sua casa? - Não sei. Acho que não. Por quê? - Quando eu crescer, estiver trabalhando e não tiver dinheiro para comprar uma casa, você deixa eu continuar morando na sua, que é a minha agora? - Claro! - Muito obrigado pela gentileza.

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Cadeira de arruar

Cadeira de Arruar, da obra Museu da Inconfidência, de Guerra-Peixe. 

Reencontrei-me com essa peça por conta de diálogos musicais com meu amigo Rogerio Schuindt.

Trata-se de uma peça cujo movimento me deixava em êxtase na minha adolescência. Coizdidoido!

https://youtu.be/PXHoI2SXRnI?t=80

Uma história de ofensa, arrependimento e não perdão

Uma pessoa amiga me disse algumas palavras duras ontem e eu fiquei muito chateado. Mais tarde se arrependeu e me pediu perdão. Eu, ofendido, não a perdoei. Passei a noite remoendo aqui. Foi então que recebi a visita de um anjo me dizendo que minha bênção estava no baú que ele carregava, mas que, por causa do meu pecado oculto, eu não a receberia.

Passei a noite lutando com o anjo para que me desse a bênção, ou melhor, o baú, a despeito do meu orgulho por não reconhecer meu pecado não confessado. Lutei muito tempo sem conseguir subtrair-lhe o baú da minha bênção. Até que, depois de muito lutar, consegui tomar o seu baú.

O anjo, zombeteiramente, fez uma dancinha e me disse: “Mas eu ainda tenho a chave, la, la, la, la, laaaa, la!”

Enfurecido, lancei-me sobre ele e nos engalfinhamos na luta novamente, dessa vez para que minha bênção fosse completa: a chave! Depois de muito lutar, consegui tocar na junta do seu cotovelo, desloquei-a com uma luxação, a chave caiu no chão, peguei-a e dei no pé.

O anjo, que se chamava Elias, começou a urrar de dor por causa da sua súbita luxação e, enquanto eu escapava, praguejou para que ursas saíssem da mata e me devorassem. Por sorte o anjo não se chamava Eliseu. Não fosse isso, as ursas – que só ouvem a voz do seu pastor – teriam atendido a seu apelo e eu não estaria aqui para contar a história desse livramento e frustração também, o que eu esclareço a seguir.

Pois bem, vejam como Deus tem seus mistérios: de posse da chave da bênção, abri o baú e havia um pergaminho ardente que não se consumia. Cuidadosamente, para não queimar os dedos, abri-o e havia apenas uma mensagem:

“Perdeu, neguinho – negão não, porque você é baixinho, playboy não, porque você não é branco: quem tem olhos e sabedoria que leia e decifre esse enigma – mas, voltando à mula fria, perdeu, neguinho: se você tivesse perdoado 70 dividido por 70 vezes a pessoa que lhe ofendeu e depois se arrependeu, em vez desse pergaminho ardente, teria um reluzente pote de ouro, sua bênção, ou quem sabe as próximas dezenas da megassena.”

Tão logo terminei a leitura, o pergaminho escapou de minha mão, abrigou-se dentro do baú que se fechou automaticamente, transformou-se em uma carruagem de fogo e foi assunto ao céu, como um raio que vai do oriente ao ocidente.

Eu fiquei a ver navios mas aprendi a lição: procurei a pessoa que me ofendeu, pedi-lhe perdão, assim como lhe perdoei os seus pecados. Porque, da próxima vez que cruzar com o anjo, ele não me escapa, o danado.


Portanto, fica a dica dessa minha experiência:

Seja pronto para perdoar
e tardio para se ofender
e desfrute de todas as bênçãos
que a Fortuna tem preparado para você.

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Culpa do PT!

Se o PT não tivesse destruído o Brasil, não haveria tanto brasileiro fugindo para o Reino-Unido. O que não provocaria o aumento da xenofobia britânica em relação a essa gente desclassificada chegando de baciada. O que não levaria a essa medida drástica do rompimento com a União Européia.

Petralhada destruindo até os pilares da civilização. Essa gente precisa ser parada!

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Calhamaço


Por conta da inquestionável praticidade, tornei-me um adepto incondicional do e-book. O suporte que mais utilizo para ler livros é o smartphone, uma vez que não gosto de ficar carregando 2 gadgets.

Hoje estou começando a leitura de mais um livro, presente da Flavia, dessa vez físico mesmo. Fazia tempo que não lia um livro físico. A sensação de pegar o livro de mais de 700 páginas para ler, aquele calhamaço a ser explorado, navegado... 

Senti-me uma criança diante de um brinquedo novo. Sensação muito agradável!

Sobre o livro, "A vida dos grandes compositores" de Harold c. Schonberg

'A música', diz Schonberg, 'é uma arte em contínua evolução e, a despeito de sua grandeza, nenhum gênio jamais deixou de ser influenciado por seus predecessores'. 
Neste livro, Harold Schonberg traçou uma linha entre compositores famosos por meio de uma série de fascinantes capítulos biográficos.
Os personagens importantes da 'verdadeira' música - Bach, Handel, Mozart, Beethoven, Chopin, Verdi, Wagner, Mahler e outros - estão inclusos, e suas vidas entrelaçadas formam uma trama rica em detalhes e histórias interessantes, tornando mais fácil a compreensão do leitor sobre a obra de cada compositor.
Todos os grandes compositores estão inclusos, e podemos encontrar, também, capítulos sobre as escolas nacionalistas e da chamada música leve de autores vienenses, como os Strausses, Sir Arthur Sullivan, Offenbach e outros.
(Fonte: Saraiva)

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Sociedade psicopata

Nossa sociedade é psicopata porque ela valoriza quem não tem empatia. Pessoas que se preocupam com os demais, que olham os menos favorecidos com compaixão geralmente são tidas como fracas, “comunistas”. Pessoas que colocam o sucesso pessoal acima de qualquer efeito colateral que isso cause, que ignoram as consequências na sociedade das suas atitudes, que olham os mais desfavorecidos como pessoas de má índole, preguiçosas e que, no limite, devem ser eliminadas (calar o outro é uma forma de eliminação), são pessoas desprovidas de empatia, fruto dessa cultura psicopata.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Religião e baratas


Com religião somos baratas. Sem religião, baratas tontas. Mas, com ou sem religião, como as baratas, não enxergamos. A religião nos passa a falsa impressão de que finalmente estamos enxergando algo.

Mozart na infância

- Felipe, quer ir em um concerto com seu pai?
- Ópera de Mozart, eu especifico.
- Mozárti?
- Não, Môzarti!
- As pessoas ficam cantando, explica a mãe.
- Não quero. E emenda: eu conheço esse cantor!
- Compositor, corrijo, e cantarolo um trecho do Rondó Alla Turca.
- Essa eu conheço, mas não era essa.
- Ah, já sei! Cantarolo o início da Sinfonia No. 40.
- Essa!!!

domingo, 5 de junho de 2016

Chegadas e partidas

Que frustração quando estando sentado no trono vai-se a energia elétrica e ficamos no escuro. Já não será mais possível aquela fugaz conferida no que sobrou de há pouco antes do pressionamento da descarga.
E por que somos afligidos por essa compulsão do rápido olhar antes do passamento? Seria o irrefreável sentimento de saudade que nos acomete de algo em nós que, nem bem chegou, já está partindo?

sábado, 4 de junho de 2016

Viva o Waze

O Waze é realmente uma beleza.

Fui à Fundação das Artes em São Caetano utilizando-o. Embora eu conheça as várias alternativas para se chegar lá, segui suas sugestões. Na volta, menos de 10 minutos depois de chegar à Fundação, como o Waze não conseguia ler as rotas, resolvi fazer o caminho mais curto, independente do trânsito encontrado porque não queria ficar me estressando com tentativas de encontrar vias menos congestionadas. Durante o percurso da Fundação das Artes até a Fundação Santo André, fiquei mais tempo parado no congestionamento que me movendo no trânsito. Da Fundação Santo André até minha casa o trânsito fluiu na normalidade, apesar de alguns picos de trânsito ruim.


Conclusão: 17 minutos na ida e 35 minutos na volta.

Subjetividade e Objetividade

"Os Unicórnios Cor-de-rosa Invisíveis são seres de grande poder espiritual. Sabemos isto porque eles são capazes de ser invisíveis e cor-de-rosa ao mesmo tempo. Como em todas as religiões, a Crença do Unicórnio Cor-de-rosa Invisível baseia-se em lógica e fé. Acreditamos que eles são cor-de-rosa e logicamente sabemos que são invisíveis porque não os conseguimos ver." –  https://pt.wikipedia.org/wiki/Unic%C3%B3rnio_Cor-de-Rosa_Invis%C3%ADvel

Esse texto me fez lembrar uma conversa com uma amiga em que discutíamos a ideia de que “se uma pessoa crê em algo, aquilo é real para ela”. A parada seria “o que é realidade, afinal?” Daí eu arriscaria dizer que há duas realidades: objetivas e subjetivas. A realidade objetiva é aquela que pode ser provada empiricamente. Por exemplo, o universo, a terra, o conhecimento científico em geral são percepções da realidade objetiva: ela existe, independente de nós. Não me refiro aos conceitos matemáticos, por exemplo, que explicam a realidade objetiva. Esses conceitos são abstrações. Mas a realidade a que eles se referem são absolutamente objetivas.

O resto, e que depende da imaginação de cada um, são realidade subjetivas, sujeitas ao tempo, à cultura. São os mitos em geral. Até mesmo conceitos que damos como “objetivos” são subjetivos, como a ideia de “país”. Alguém poderia dizer: “mas é claro que o Brasil existe! Olha lá no mapa!” Mas a ideia de país é absolutamente subjetiva, é um mito criado e que as pessoas acreditam. Se todos os seres humanos morressem hoje e, dentro de alguns anos começassem a surgir novos seres humanos de algum processo qualquer, sem laço cultural com a atual cultura, ele seria capaz de reconhecer uma árvore, independente do nome que desse a ela, mas podemos assegurar que o Brasil não existiria, tampouco outros países. E, se algum dia o conceito de país surgisse novamente, a divisão dos países seria bem diversa da que existe hoje e seria algo imaginado ao longo do tempo pelos processos históricos. Ou seja, uma realidade totalmente subjetiva.

Ainda que países sejam mitos, como tantos outros, são facilmente “lastreáveis” na realidade objetiva a partir de uma série de ferramentas (a geografia, por exemplo) e é possível, através dessas convenções, chegar a uma determinação consensual e “objetiva” de onde começa e termina um país em particular. Apesar dessa realidade que se torna “objetiva” porque as pessoas concordaram, por meio de sua imaginação de que aquilo seria real, pode-se afirmar que países não existem no mundo real, apenas na imaginação das pessoas.

Penso que as religiões são o mesmo: elas são “realidades subjetivas” que existem apenas na cabeça das pessoas. Se uma determinada ideia subjetiva a respeito de uma determinada divindade se torna uma ideia compartilhada por um número muito grande de pessoas, aquilo acaba sendo enxergada como uma “realidade objetiva”. Por isso as pessoas gostam de dizer “Deus é real”. É real na imaginação delas. Tanto que existem tantos “deuses reais” e a única característica que eles realmente têm em comum é o fato que um número limitado de pessoas acredita neles e os demais geralmente consideram

Se, por algum motivo as pessoas passassem a acreditar, aos poucos, nessa proposição dos “unicórnios cor-de-rosa” que soa tão hilariante, e fossem perdendo a crença no deus Jeová, por exemplo, e em alguns milênios houvesse muito mais gente que acreditasse nos tais unicórnios, isso seria encarado como uma “realidade objetiva” pela maior parte das pessoas e a ideia de um “deus Jeová” nos moldes dos cristianismo seria hilariante.


Enfim, vivemos numa grande matrix de realidade subjetivas que se interrelacionam e causam uma sensação de realidade objetiva. Mas a única objetividade disso tudo é que não passa de imaginação nossa. J

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Em tempos de obscurantismo religioso...

Em tempos de obscurantismo religioso, uma frase de Chico Xavier por Silvio Messias:

“Aos outros, eu dou o direito de ser como são; a mim, dou o dever de ser cada dia melhor”.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Espírito Carnavalesco

Fim de tarde, me aproximo da fila de carros parados no semáforo das avenidas Lauro Gomes e Atlântica, em Santo André. Observo uma garota que vem em direção ao meu carro, falando com os motoristas e passageiros que estão parados à minha frente. Com exceção de um dos veículos, todos os demais lhe dão dinheiro.

Trata-se de uma garota branca, cabelo castanho-claro, liso, preso em um coque mal feito. Aparenta ter uns 20 anos e, segundo o padrão de beleza vigente, não poderia ser chamada de feia. Não é magra, parece bem nutrida. Veste-se mal com uma roupa suja. Também segura nas mãos uma garrafinha vazia de água mineral.

Quando se aproxima de mim, o semáforo abre e só consigo lhe dizer “vou ficar lhe devendo dessa vez” pois o motorista atrás de mim começa a buzinar impacientemente para eu arrancar logo. Mas deu tempo para ouvir o que ela tinha a me dizer: “moço, estou com fome, você tem algum dinheiro?”

Vou embora impressionado com o “arrastão amigo” promovido pela garota. Minha conclusão é óbvia: nossa, e não é que o carnaval despertou o espírito natalino do pessoal?