quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Como trollar um bando de machista escroto


Algum lugar do passado.

Avenida Luis Carlos Berrini.

Primeira visita na área de TI de uma empresa, cliente, para tratar de um projeto de integração de dados. Trabalho na parte da manhã com minha visitada dando pontapé no projeto.

Almoço. 

Ela me convida para ir almoçar com seus colegas de TI, “berriners” típicos.

No restaurante, a conversa sobrevoou por vários temas até que aterrissou no caso Eliza Samudio – goleiro Bruno. Com o preconceito e escrotidão típicos do ambiente corporativo (quem conhece sabe do que estou falando), os caras vomitaram seus preconceitos sobre a “puta” Eliza.

Eu me limitei a escutar.

Não sei se minha visitada sacou meu desconforto ou foi apenas um insight do nada mas, de repente, no meio da conversa, ela solta essa:

- O Obadias conhece a Eliza.

Pausa dramática.

Todo mundo olha pra mim com aquela cara de “oi???”.

Eu, que não sou de perder a viagem, na maior cara de pau confirmei: de fato, eu a conhecia, já que ela era minha prima de segundo grau. Sua mãe seria prima de primeiro grau de minha mãe. Justifiquei o parentesco com a ascendência italiana por parte de minha avó materna, o que é verdade, supondo que Samudio seja um sobrenome italiano. Se não é, não faz a menor diferença: colou.

De repente, o clima de “descontraída gozação” em cima da desgraça que se abateu sobre Eliza Samudio se tornou bastante constrangedor. Agora sérios, pediram mais detalhes sobre a jovem, como ela era, enfim, curiosidade mórbida de quem se vê de repente diante de um parente de algum notavelmente morto.

Improvisei histórias e relações fictícias dando a impressão de que estava apenas sendo educado com aquele bando de escroto que estava se divertindo às expensas de macular a memória de minha suposta prima.

No final me pediram desculpas e o assunto, obviamente, morreu, já que a gozação em cima de alguém que não podia se defender havia se tornado tecnicamente um insulto a alguém que estava presente.

Depois do almoço, quando voltávamos para o escritório, perguntei discretamente para a cliente que eu tinha acabado de conhecer: "O que foi aquilo?" Não me lembro de sua resposta, mas me lembro que ela tinha achado muito divertido. Talvez achasse seus colegas muito escrotos e tinha tentado a sorte de colocá-los em uma saia justa. Arriscou e deu certo porque trollagem é comigo mesmo.

Na visita seguinte eu lhe perguntei se ela tinha desmentido a história. Ela disse que não. Rimos muito e deixamos assim mesmo.