sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Ponto final

No ponto final, o rapaz à minha frente, aparentando cerca de 30 anos se despede do condutor:
- boas festas.
- para você também.
aproveito o embalo e faço o mesmo com o motorista que aparenta ter minha idade ou até mais:
- feliz 2018.
- para o senhor também.

meidade é isso aí. firme rumo à terceiridade, senilidade e a indefectível mortalidade. se o ponto final não chegar antes.

sábado, 14 de outubro de 2017

Santa Internet

- Pai, que música é essa?
- Sonata “O Luar”, Vitor.
- De quem é?
- Beethoven. Era só perguntar pro Felipe.
Hoje, quando voltávamos da aula de piano, o Felipe pediu para eu pesquisar no celular e soltar no som do carro (via bluetooth) “La Campanella” de Lizt. Enquanto ouvíamos, me explicou as diferenças entre Lizst e Chopin. E falou com muita propriedade.
Depois disse que, daqui uns 10 anos, caso se torne um pianista, não fará concerto de músicas de outras pessoas mas dele mesmo, se tiver boas ideias para compor, claro.
Outro dia estava dizendo as principais características de Mozart e Bach. Há algumas semanas, estava me dizendo com que idade morreram os compositores e se disse surpreso em saber que Mozart e Chopin, por exemplo, morreram cedo, e mesmo assim compuseram tanta coisa.
- Onde você leu isso, Felipe?
- Queria saber com que idade o Chopin morreu. Pesquisei no Google. Depois pesquisei sobre os outros compositores.
Bendita internet, rogai por nós ignorantes, agora e na hora da nossa pesquisa. Amém.

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Quase sobre escola sem partido

Já que o tema vem e volta...

Não vou entrar nessa bobagem de escola sem partido, mas vou dizer como eu vejo uma questão que tangencia o tema.

Há algum tempo, discutindo com alguns amigos, propus para eles a reflexão "por que será que professores de humanas geralmente são de esquerda?". Na falta de respostas, eu mesmo arrisquei uma: quando o estudioso de humanas se debruça sobre a história da humanidade, sobre os fenômenos sociais e tudo o mais, e o faz com bastante honestidade, ele chega a uma conclusão bastante simples: os mecanismos perversos que sustentam o status quo, em uma sociedade de ideologia predominantemente capitalista, e suas perversões garantem a exploração do ser humano de forma geral por um grupo bem menor e cada vez mais exclusivo à medida que esse poder de subjugar o outro aumenta. O estudioso honesto e humanitário terá uma visão bastante crítica desse processo. Porque ele foi lá e estudou a fundo esses fenômenos.

Então, nem se trata de ser comunista ou capitalista, o estudioso de humanas terá uma visão negativa disso tudo. Ocorre que a força perversa que domina o mundo, nesse sentido, é a força capitalista. A partir do momento em que o estudioso se torna um crítico desse modelo, ele automaticamente é empurrado, por meio dos rótulos, para o "comunismo".

Mas é extremamente saudável que haja essa "força ideológica" que se insurja contra a onipotência do pensamento capitalista hegemônico. Isso garante nossa decência como seres humanos, para não cairmos na ditadura do pensamento único.

Nem é preciso dizer que o "mercado" é capitalista e cada vez mais selvagem. Então já existe uma força avassaladora que consome as pessoas e é preciso fazer algum tipo de contrapeso. Natural que esse contrapeso venha do meio acadêmico porque o que move o mercado não é a dignidade, o pensamento, mas a ganância, a voracidade. Já os valores do meio acadêmico são outros.

Imaginem vocês se os capitalistas levassem de reboque o pensamento acadêmico? Não restaria mais nada. Mas isso não acontecerá porque sempre haverá seres humanos bastante críticos e sensíveis a essa realidade e que sempre proporão uma leitura alternativa, uma tentativa de equilibrar essas forças, para não sermos todos consumidos pela lógica capitalista selvagem.

Portanto, deixemos nossos professores com seu olhar crítico e perturbador da realidade (crítico e perturbador para os que estão anestesiados pela visão maniqueísta de que "capitalismo" é bom e "comunismo" é ruim). É essa capacidade de enxergar além da hegemonia que não permitirá que nos desumanizemos demais.

Por fim, escola sem partido é um projeto furado porque sempre haverá pessoas que pensam contra a corrente, que não se submetem ao pensamento hegemônico.


Viva a pluralidade de pensamento. Viva nossa capacidade de nos insurgirmos contra as ditaduras, sejam elas óbvias, sejam elas ardilosas.

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Tempos modernos

Felipe: eu conheço essa música. gosto dela. qual o nome dela pra eu colocar no meu spotify?
Eu: nada será como antes

sábado, 22 de julho de 2017

Sobre sonhos musicais

Tenho sonhos musicais. Não é frequente mas tenho. Nos sonhos as melodias são lindas, os arranjos são maravilhosos. Porque tudo é lindo e colorido nesse tipo de sonho. Uma vez sonhei com uma melodia, acordei e me lembrava dela completa. Escrevi-a em uma pauta musical. Um dos sonhos mais belos que tive era uma música coral que eu ouvia em uma catedral católica em Bogotá, mas a igreja era a catedral da Sé.
Estou escrevendo um arranjo para bigband e empaquei em um compasso. Tenho que fazer uma “ponte” com um acorde “sus” de uma seção a outra e todas as ideias que me ocorrem são muito ruins. Essa manhã meu sonho cheio de histórias e reviravoltas (nem me lembro mais) finalizou comigo sentado em um piano (no sonho eu tocava piano ahahahah) resolvendo a questão. A solução era muito simples. Eu ficava exultante e corria para comemorar com as pessoas. Acordei. Agora sei a solução que darei ao problema. Espero que funcione.
Meus sonhos musicais são intensos. Mas um deles bateu todos os recordes.
Estava uma vez em Buenos Aires trabalhando em um projeto. Minha parada seguinte era Bogotá. Na noite que antecedia minha partida, sonhei que havia uma apresentação de uma peça coral com orquestra na igreja que eu frequentava. O coro e a orquestra eram sensacionais, como costumam ser nos sonhos. Eu estava com a grade orquestral na mão acompanhando, ao lado do meu irmão, Micaías de Deus, também um melômano. Nós acompanhávamos a partitura embevecidos com tanta beleza.
Eu destacava na partitura as principais frases musicais e ia comentando com meu irmão. No sonho eu via a partitura completa! Acordei de manhã e a música continuava soando na minha cabeça. Eu ainda enxergava as partes da grade musical que tinha visto no sonho. Acordei extasiado com tanta beleza. E assim continuei enquanto fazia as malas, descia para o desjejum com uma sem-sa-cio-nal “media luna” daquele hotel chique, fazia o check-out, chamava o táxi que partia para Ezeiza.
Era uma manhã tranquila e o aeroporto estava com movimentação normal, as filas não eram grandes Fui empurrando minha mala até chegar minha vez, enquanto repassava as ideias do sonho, que eu queria preservar na minha mente o maior tempo possível. Quando chegou minha vez para colocar a mala na balança, algo estranho ocorreu: fiz força demais para o peso que havia na mala. Esquisito! Pedi um instante para a moça e abri a mala. Meu Deus!!!! Cadê minhas camisetas? Cadê minhas cuecas? Cadê meus livros? Eu sempre carregava alguns livros porque estava sempre lendo e minhas malas costumavam ser meio pesadas por isso.
Desesperado, disse para a moça que tinha esquecido parte da minha bagagem no hotel. Será que dá tempo??? Ela não me garantiu, disse que estava por minha conta e risco, mas acreditava que daria tempo sim, caso eu não tivesse nenhum contratempo no caminho. Desesperado voei de volta para a saída do aeroporto pedi para o taxista voltar voando para o hotel e que me esperasse porque eu retornaria ao aeroporto chegando no hotel entrei esbaforido na recepção eles perceberam minha angústia sofregamente resumi a história o rapaz que cuida das malas e que tem um nome especifico nesses hotéis chiques e que me esqueci agora qual é subiu correndo comigo no apartamento esvaziei as gavetas esquecidas voltei voando para o táxi que retornou desrespeitando todas as leis de trânsito para Ezeiza e... ufa! não perdi o fôlego nem o voo.
Tudo por causa de um sonho musical que me deixou em êxtase. kkkkkkkkkk

domingo, 2 de julho de 2017

Sentimental é mesmo o amor

Felipe e Eunice Melo:
- Vó, do que vocês estão falando?
- Grey's Anatomy.
- Ah, eu já vi. É horroroso.
- É, muito sangue, né?
- Não, horroroso nas partes sentimentais.

quinta-feira, 8 de junho de 2017

Custo de vida

- Pai, quando era criança você usava aparelho no dente?
- Não.
- Por quê?
- Porque não existia, não era comum. E se existisse, só rico que usava.
- Era muito caro?
- Era.
- Quanto?
- Ah, sei lá! Era caro.
- Mas quanto?
- Ah, não sei! Uns 10 mil! 🙄
- Tudo isso? Hoje é barato. Custa uns 50 reais!
- Não, custa uns mil, dois mil...
- Tudo isso? Nada a ver.
- É isso mesmo.
- Mas o Vitor e a mãe pagaram tudo isso? Nada a ver.
- Mas é caro mesmo.
- Nada a ver! Xbox é melhor e não custa caro assim.

Uma confissão

Eu me lembro de um fato muito emblemático na minha vida...

Uma vez, quando regia um coro jovem, fui na casa do meu amigo Eliezer, que era diretor do coro, para discutirmos alguns projetos em andamento. Na época o Vitor era bebê.

Chegando ao seu apartamento, fomos conversar e seu filho nos interrompia a todo instante.

Ele, delicadamente, pegou o filho, levou-o à sala, ligou a TV em um desenho e pôs o garoto para assistir.

Eu fiquei apenas observando. Internamente, confesso, censurei a atitude do pai desnaturado que fazia da TV uma babá para seu filho.

Até que meu bebê cresceu...

HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAH!!!!!

Fim.

domingo, 28 de maio de 2017

Crônica de um desmaio anunciado

A vida moderna não é fácil. Se deixamos o turbilhão de compromissos assumidos, responsabilidades, pressões tomarem conta de nossas vidas, acabamos nos metendo em uma escalada vertiginosa de sucateamento do nosso organismo.

Foi o que aconteceu comigo nas últimas semanas. Pressões no trabalho, cargas horárias insanas (na última semana dormi apenas 6 h no intervalo de 3 dias), alimentação totalmente desregrada, uma cirurgia odontológica que me obrigou a tomar um anti-inflamatório pesadíssimo por 5 dias... Para quem tem gastrite, isso é um desastre.

Enfim, procurei o médico e acabei tomando o remédio receitado. Melhorei da gastrite mas percebi que alguns efeitos, que julguei colaterais, começaram a aparecer. No final das contas, ontem sentia muitas dores nos ossos. Fui ao Hospital Brasil ontem à noite, expliquei tudo para o médico e, para resumir, ele entendeu que não tinha a ver com a gastrite mas com a potencialização que meu estresse causou. Receitou alguma coisa e me disse:

- Se você quiser tomar um remédio na veia, já dá uma pancada e diminui essa dor.
- Por mim beleza.

Perguntou se eu tinha alergia a alguns tipos de remédio e, depois da minha negativa, me disse que iria receitar Tramal. Sei lá o que é isso, mas tudo bem.

Encurtando a história, depois de algumas etapas preparatórias, fui colocado em uma poltrona para receber o Tramal na veia, aos poucos, como um soro. Inicialmente, fiquei interagindo com meu celular. Depois de algum tempo me bateu um sono muito forte e preferi ficar de olhos fechados, semi sonolento. Até que terminou a medicação.

Os enfermeiros me liberaram e fui embora. Estava me sentindo meio grogue. Pensei: vou até o carro, descanso um pouco e, quando me sentir melhor, vou embora. Saí pala saída do Pronto Atendimento do Hospital Brasil, onde também é uma entrada de estacionamento. São uns 15 metros até a entrada de pedestres e veículo. Eu caminharia até lá viraria à direita, subiria a rua até meu carro que estava uns 50 metros de distância. Enquanto caminhava pela entrada do estacionamento, senti que a sensação de mal-estar aumentava. Comecei a andar mais rápido. Cheguei na calçada, virei à direita, dei uns 10 passos e me dei conta de que não conseguiria chegar no carro. Dei meia volta, uma sensação de desmaio inevitável tomou conta de mim, apertei o passo para tentar chegar ao menos na entrada do estacionamento e pudesse desmaiar em paz, à vista de alguém do hospital que passasse por ali.

Cambaleante, consegui chegar bem no limiar da calçada, na entrada do estacionamento, sentei-me e apaguei....

Deve ter sido um desmaio muito rápido porque, pelo horário das conversas pelo whatsapp com minha esposa, entre meu último contato com ela, ainda na medicação, e o contato depois que eu já estava em condições de falar, passaram-se 18 minutos. Então todo o processo do desmaio deve ter durado de 5 a 8 minutos no máximo.

A noite estava deliciosa. O chão parecia uma cama confortável. Aquele ventinho soprando... Ai... que delícia... Nossa, de onde vim, para onde vou, o que estou fazendo aqui? Ah, sim... estava me preparando para um desmaio feliz! Então eu desmaiei! Peraí! Onde eu estava mesmo? Ai, caramba, estou no hospital!!! Ai, meu Deus alguém tem que me encontrar...

Era por volta de meia-noite.

O tempo passa e nada. Tento me mexer e não consigo. Estou em um delicioso estado de torpor. Resolvo ficar ali, deitado, aproveitando. Em algum momento vai aparecer alguém. De fato, depois de algum tempo, ouço algumas vozes ao longe:
- Olha, tem um rapaz caído aqui! – é uma voz masculina.
Outra voz masculina se junta e começam a conversar. Um deles mexe comigo.
- Ei, rapaz, você está bem? Você me ouve?
Eu ouço tudo, distante, mas não consigo me mexer. Os dois ficam ali discutindo o que fazem, um deles diz que vai entrar no hospital e chamar os médicos. Isso me faz concluir que são transeuntes que me encontraram.

Passam-se alguns minutos, o rapaz tentando conversar comigo, eu não consigo responder, tento soltar um gemido para ele ver que estou “bem”. Não sei se adianta porque ele continua falando comigo. O outro rapaz aparece de novo dizendo que enfermeiros virão me resgatar. O que me acompanhou diz que eu devo ter saído dali porque estou com papéis do hospital e a pulseira do atendimento. Observa também que devo estar sozinho porque há uma chave de automóvel jogada ao lado do meu corpo. Quer dizer, meu corpo não, porque, pelo que consta, ainda não morri. Ou estaria ouvindo o diálogo do céu, justamente por isso ele parece estar meio longe? De qualquer forma, o rapaz me parece muito sagaz. Se estivesse em melhores condições, dir-lhe-ia (oi, Fora Temer?) que ele daria um ótimo detetive.

O rapaz, todo cuidadoso diz para o outro que, se ele quiser, pode ir, que ele fica comigo enquanto o pessoal do hospital não chega. Não me lembro, mas parece que o outro vai embora. O rapaz continua a tentar me animar, falar comigo: “tudo bem?” Já que não consigo falar, tento fazer um positivo com a mão. Mal consigo mexer o braço e faço um sinal. Não sei se pareceu um positivo ou se ele viu. Mas, se viu, sagaz como é, sua veia detetivesca deve ter lhe sugerido que minha movimentação manual era uma tentativa de dizer que tudo estava bem.

Chegam os enfermeiros, ele faz um breve relato e diz:
- Essa chave deve ser dele. Vou colocar no bolso dele, ok?
E o faz.

Os enfermeiros falam comigo, respondo em palavras mal articuladas, já estou melhor, e eles me dizem que vão me levantar para colocar na maca. Eu tenho a impressão de que eles estão dizendo para eu me colocar de pé com a ajuda deles. Por um breve momento fico imaginando como isso seria possível. Mas nem preciso me preocupar: eles me erguem e meus braços caem como um saco de estopa vazio. Meus músculos parecem todos desligados.

Levam-me de volta para o hospital, me deixam em uma sala contígua a um almoxarifado e dizem para eu descansar, que eles vão me colocar no soro. Ouço alguém dizer que seria preciso iniciar o processo de internação e me deixar em observação, o que não me agrada nem um pouco. Perguntam-me se tenho acompanhante. Digo que não. Eles me respondem que, caso tivesse, eu poderia ser liberado depois de melhorar. Digo que vou contatar minha esposa. Imediatamente ela chama um Uber e vai ao hospital. Quase duas horas depois vamos embora.

No final das contas, eu que já tive diversos episódios de desmaio ao longo da vida e que, o que mais me agrada é aquele estado de torpor pré e pós desmaio, foi uma experiência agradável ficar naquele chão, totalmente relaxado, sentindo a brisa da noite, totalmente brisado, ouvindo as pessoas falando de longe... kkkkkkkkkk


Por outro lado, pareceu-me uma tremenda irresponsabilidade do médico que me atendeu e dos enfermeiros na sequência, não terem me falado que essa medicação é pesadíssima, perguntarem-me se tenho problema de hipotensão arterial (minha pressão arterial é mais baixa mesmo), enfim, esses cuidados de praxe.


Mas, enfim, tudo acabou bem e até me pareceu divertido. Teria sido problema mesmo, como disse meu amigo Hernan Pimenta, se em vez de serem os transeuntes que tivessem me encontrado, fosse o Dória: com essa minha cara de mendigo cracudo, eu corria sério risco de ser internado à força por ele. Já pensou a confusão depois que daria até eu ser encontrado em algum manicômio babando, metido em uma camisa de força?

terça-feira, 23 de maio de 2017

Nosso Brasil de cada dia


Quando a papagaiada do impeachment da Dilma iniciou, fui totalmente contra. Nem era preciso entender de política (até me chamaram de comentarista sênior de política no facebook) para sacar a furada: basta entender um pouco da alma humana. Era ÓBVIO que não se tratava de um movimento legítimo das massas buscando uma moralização na política mas uma manipulação massiva por parte de setores da sociedade e uma guerra de quadrilhas no poder. Eu até desafiei meus amigos detratores: esperemos 6 meses/1 ano e vejamos onde isso vai dar. Já deu pra ver, não?

Mas o mais interessante é que, em que pese toda minha admiração pelo Boechat, na época ele era um dos mais entusiastas defensores da lava-jato, um “patrimônio do país” que estava por fim fazendo história e que o movimento do impeachment era decorrência disso e não, nas minhas palavras, uma quadrilha no poder querendo derrubar a outra. Defendia ele que os políticos apenas estavam respondendo ao clamor das ruas. Como ele é um integrante da mídia, sempre achei que ele deixou seu amor pelo seu meio influenciar um pouco no seu julgamento, como se a mídia não fosse tão manipuladora. Enfim.

Fazia um tempo que não ouvia a Band por questões técnicas e hoje voltei a ouvir. Quando o Boechat começou sua fala matutina, fiquei surpreso ao ouvi-lo dizer que o impeachment da Dilma foi resultado de um segmento do poder que se levantou para derrubar outro. Foi basicamente o que ele disse. Nada de clamor das ruas, nada de passar o país a limpo. Nada. Tudo se reduziu, em outras palavras, ao que eu dizia desde o início: guerra de quadrilhas políticas. Não sei quando ele mudou de opinião, mas bastava ser um pouco coerente e se render às evidências que sempre estiveram claras para mim (desculpaê Boechat eheheheh).

Quanto aos meus amigos detratores, parte deles se renderá aos fatos, parte deles – eu percebo isso claramente – se manterá às suas fieis ilusões ideológicas, e parte deles voltou à letargia, esperando à próxima convocação da mídia para que coloquem a camisa da seleção e derrubem o governo.

segunda-feira, 22 de maio de 2017

24 anos de casamento

No passado, quando não havia navegadores, quando não havia smartphones, quando não havia GPS, quando dependíamos de um bom e velho mapa, tínhamos a alternativa de andar com o mapa debaixo do braço, ou um guia de ruas de dimensões bíblicas ocupando quase todo o porta-luvas do automóvel, se o tínhamos. Chegar a novos sítios era uma aventura quase sempre recheada de desencontros, atrasos, às vezes raivas e boas histórias. E, sempre que possível, dávamos um jeitinho com os mapinhas manuais, simplificados.

Tal como o mapinha que eu fiz para minha recém primeira e única namorada de como ela faria para chegar no ponto do tróleibus próximo à minha casa onde eu a estaria esperando para conhecer minha família.

Hoje, 28 anos depois, completamos 24 anos de casados. É tempo, hein? Dois filhos nas costas e um monte de história boa e ruim para contar, vamos aos poucos deixando nosso legado comum, nessa existência. Legado cheio de imperfeições, afinal não somos perfeitos e eu sou alguém muito complicado de se aturar, mas uma história bastante rica. Se nossos filhos puderem nos ver como pais que souberam lhes preparar para a vida, meu objetivo terá sido atendido com louvor. Quanto à Flávia, eu sempre lhe digo: da próxima vez escolha melhor o marido. AHAHAHAHAH!

Hoje é o dia de eu celebrar a metade da minha existência vivendo ao lado dessa mulher, decisão que tomei aos 24 anos de idade. Um brinde à Flávia, amor da minha vida.

sexta-feira, 21 de abril de 2017

Filmes assistidos em 2016

Eu e minhas manias estatísticas.
Filmes/séries assistidos no ano passado (tecnicamente, esse é meu único hobby), classificados pela pontuação imdb. Parte deles foram assistidos novamente com meu filho mais velho e outros infantis assisti para acompanhar meu caçula. Uma média de 1 filme a cada 4,17 dias

Games of Thrones - temporada 6 (9,5)
House of Cards - temporada 4 (9)
Crown - 1a temporada (8,9)
Narcos - temporada 2 (8,9)
Better Call Saul - temporada 1 (8,8)
Better Call Saul - temporada 2 (8,8)
Black Mirror - temporada 1 (8,8)
Black Mirror - temporada 2 (8,8)
Dexter - temporada 7 (8,8)
Mr. Robot - temporada 1 (8,8)
A origem (8,8)
Cidade de Deus (8,7)
Amnesia (8,5)
Janela indiscreta (8,5)
Homeland - temporada 4 (8,4)
O sol é para todos (8,4)
Orphan Black - temporada 3 (8,4)
A caça (8,3)
Se meu apartamento falasse (8,3)
Requiem for the American Dream (8,2)
Grande Hotel Budapeste (8,1)
May Man Godfrey (8,1)
Rede de intrigas (8,1)
Clube de compras Dallas (8)
Os oito odiados (7,9)
Procurando Dory (7,9)
Que horas ela volta? (7,9)
Bonequinha de luxo (7,8)
Gilbert Grape - Aprendiz de sonhador (7,8)
Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban (7,8)
Mãos talentosas: a história de Ben Carson (7,8)
O lado bom da vida (7,8)
O nome da rosa (7,8)
Os Indomáveis (7,8)
Telma e Louise (7,8)
E menino e o mundo (7,7)
Harry Potter e o Cálice de Fogo (7,7)
Meia-noite em Paris (7,7)
Ponyo: uma amizade que veio do mar (7,7)
Clinton cash (7,6)
Como eu era antes de você (7,6)
Os Excêntricos Tenenbaums (7,6)
Ponte de espiões (7,6)
Amy (7,5)
Harry Potter e a pedra filosofal (7,5)
Interiores (7,5)
Jesus camp (7,5)
Meu primo Vinny (7,5)
O aluno (7,5)
A fortuna de Ned (7,4)
Cuatro Lunas (7,4)
Harry Potter e a Câmara Secreta (7,4)
Ida (7,4)
Looper: Assassinos do Futuro (7,4)
O paciente inglês (7,4)
The Fundamentals of Caring (7,4)
Carol (7,3)
Carruagens de fogo (7,3)
Familia Belier (7,3)
Sing - quem canta seus males espanta (7,3)
Um santo vizinho (7,3)
Como água para chocolate (7,2)
De volta ao jogo (7,2)
Deus da carnificina (7,2)
Inevitável (argentino) (7,2)
O médico (7,2)
Três vezes amor (7,2)
Um homem entre gigantes (7,1)
Canção para Marion (7)
Meu amigo, o dragão (6,9)
Palmeiras na neve (6,9)
O bom dinossauro (6,8)
Tallulah (6,8)
Trem noturno para Lisboa (6,8)
A vida secreta dos bichos (6,7)
Toast: A História de uma Criança com Fome (6,7)
Magia ao luar (6,6)
Frankie & Alice (6,5)
Alice Através do Espelho (6,4)
Chatô, o rei do Brasil (6,3)
Crimes em primeiro grau (6,3)
Eram os deuses astronautas? (6,3)
A era do gelo 5 (5,9)
Just Wright (5,8)
Lila & Eve (5,8)
Operações especiais (4,9)
Maluca paixão (4,8)
Trazan 3D (4,8)


quinta-feira, 20 de abril de 2017

Alves e os esquilos

- pai, que música é essa?
- send for me.
- de quem que é?
- não sei quem é o compositor, mas quem está cantando é o nat king cole.
- essa música é do alves.
- alves?
- é, alves.
- alvin e os esquilos?
(sei lá, né? de repente eu não estava entendendo a pronúncia...)
- não, alves presley!
- ah.... elvis presley! e como você sabe que é dele?
- eu estava ouvindo a música e estava escrito, eu li.
preferi não perguntar mais. era mais interessante deixar a história assim.
- essa é a única música do elvis presley que eu conheço.

quarta-feira, 19 de abril de 2017

Nossa desgraça cotidiana

"Dia desses meu carro teve um problema e nós viemos rebocados no guincho. Eu vim na boleia do caminhão conversando com o caminhoneiro. Daí fui perguntando sobre a questão política. Ele me falou uma coisa que eu achei antológica:
- Eu não gosto da internet, porque a internet me confunde. Eu assisto o jornal da tv e tá tudo bem informado. Mas, quando eu vou para a internet, eu fico confuso.
Eu disse para ele:
- Mas essa confusão é que vai lhe dar o contraponto, meu amigo.
Ele falou:
- Mas eu não gosto dela.
Quer dizer, ele quer ser enganado. Essa é a questão."
Meu comentário ao meu amigo, Rômulo:
Ri alto aqui, Rômulo!!!
Esse cara é o arquétipo do brasileiro!
Aliás, o arquétipo do religioso.
O cara não quer ter sua mente aberta. Ele quer ser enganado por seus mitos, por suas crenças simplórias.
Encarar a vida, a realidade, tal como ela é, implica em ter que assumir suas próprias broncas, implica em não estar sob a tutela de ninguém, implica em pensar por si próprio e todos os riscos que isso implica.
No geral, as pessoas não querem isso. Elas querem que uma instância superior decida por elas. A vida é muito mais fácil assim.
Por isso as pessoas preferem que o Jornal Nacional decida que narrativa elas vão acreditar.
No limite, é isso o que a maioria das pessoas quer.
Por isso o país está uma merda.
Por isso não conseguimos sair dessa desgraça.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Música boa, ruim e preconceito

Diálogo com o Felipe enquanto íamos de carro na sua aula de piano e a música tocava no carro:
- Meu Deus, que piano é esse, pai? Não se parece com Chopin. Parece música de morte.
- É música moderna, Felipe – simplifiquei.
- Moderna? Mais nem rico gosta disso (sic). Isso não é moderno! Chopin que é moderno (kkkk). Até Brahms, que eu não gosto, é melhor que isso.
Alguns minutos depois:
- Isso parece música de terror, de Harry Potter.
Mais tarde, quando o pianista estava num improviso, ele disse:
- Não achei bonito, mas ele toca rápido, igual Chopin. Ou Beethoven.
Daqui alguns anos, quando sua exposição a esse tipo de música for maior e ele tiver ampliado seus horizontes pianísticos, caso continue no seu interesse em tocar o instrumento, irá mudar sua forma de ver essa música.
Isso nos leva à questão importante, e que se aplica a mim também (eu procuro sempre ter em mente isso): a gente geralmente não gosta do que não conhece. A rigor, não existe música ruim: existe música que eu não gosto.
Aliás, nas últimas semanas tive uma experiência bem interessante (que sempre aconteceu): escrevi 6 arranjos orquestrais de músicas pop. Todas músicas de artistas que eu não ouço, como Paula Fernandes, alguns que eu ouço ocasionalmente, como Coldplay.
Para se fazer um arranjo, é preciso ouvir várias vezes a mesma música para captar as ideias principais. Nesse exercício, acabamos reconhecendo a beleza de muitas ideias que por vezes rejeitamos e não utilizamos por causa da barreira estética. No final das contas, partir daquelas ideias e acrescentar meu “DNA musical” a elas foi um exercício muito legal e me permitiu, mais uma vez, perceber que o mundo está cheio de ideias boas e maravilhosas, basta não sermos preconceituosos para reconhece-las, dialogarmos com elas e expandirmos nossos horizontes.

A música que tocava no carro: https://www.youtube.com/watch?v=rmsgasTxOKc&feature=share

Redes de cooperação humana

Quando vamos avaliar as redes de cooperação humanas, tudo depende do parâmetro e do ponto de vista que adotamos. Julgamos o Egito dos faraós em termos de produção, nutrição, ou talvez de harmonia social? Focalizamos a aristocracia, os camponeses simples ou os porcos e crocodilos? A história não é uma narrativa única, mas milhares de narrativas alternativas. Sempre que escolhemos contar uma delas, escolhemos também silenciar outras. (Yuval Noah Arari)

Contrato da modernidade

A modernidade é um contrato. Todos nós aderimos a ele no dia em que nascemos, e ele regula nossa vida até o dia em que morremos. Pouquíssimos entre nós são capazes de rescindir ou transcendê-lo. Esse contrato configura nossa comida, nossos empregos e nossos sonhos; ele decide onde moramos, quem amamos e como morremos.
À primeira vista, a modernidade parece ser um contrato extremamente complicado, por isso poucos tentam compreender no que exatamente se inscreveram. É como se você tivesse baixado algum software e fosse solicitado a assinar um contrato com dezenas de páginas de juridiquês; você dá uma olhada nele, rola imediatamente para a última página, tica em “concordo” e esquece o assunto. Mas a modernidade, de fato, é um contrato surpreendentemente simples. O contrato inteiro pode ser resumido numa única frase: humanos concordam em abrir mão de significado em troca de poder.
Até os tempos modernos, a maioria das culturas acreditava que os humanos desempenham um papel em algum grande plano cósmico. O plano foi concebido pelos deuses onipotentes, ou pelas eternas leis da natureza, e o gênero humano não podia mudá-lo. O plano cósmico dava significado à vida humana, mas também restringia o poder humano. Os humanos assemelhavam-se muito a atores num palco. O roteiro emprestava significado a cada palavra, cada lágrima e cada gesto — porém restringia e limitava seu desempenho. Hamlet não é capaz de assassinar Claúdio no primeiro ato ou de deixar a Dinamarca e ir para um eremitério na Índia. Shakespeare não o permitiria. Da mesma forma, os humanos não podem viver para sempre, não podem escapar a todas as doenças e não podem agir como quiserem. Não está no roteiro.
Em troca de abrir mão do poder, os humanos pré-modernos acreditavam que suas vidas ganhavam significado. Realmente importava se eles se portavam com bravura no campo de batalha, se apoiavam o rei legítimo, se consumiam alimentos proibidos no desjejum ou se tinham um caso com a vizinha. Isso suscitava alguns inconvenientes, mas dava aos humanos proteção psicológica contra desastres. Se algo terrível acontecia — como guerra, peste ou seca —, as pessoas se consolavam dizendo: “Todos nós desempenhamos um papel em algum grande drama cósmico, concebido pelos deuses, ou pelas leis da natureza. Não estamos a par do roteiro, no entanto podemos estar seguros de que tudo acontece com algum propósito. Mesmo as terríveis guerra, peste e seca fazem parte do esquema maior. Além disso, podemos contar com o dramaturgo de que sua história terá um final feliz.
Assim, até a guerra, a peste e a seca vão resultar no que é melhor — se não aqui e agora, então no pós-vida”. A cultura moderna rejeita a crença num grande plano cósmico. Não somos atores em qualquer drama maior do que a vida. A vida não tem roteiro, nem dramaturgo, nem diretor, nem produtor — tampouco significado. Até onde chega nosso melhor entendimento científico, o Universo é um processo cego e sem propósito, repleto de som e de fúria, mas sem significado algum. Ao longo de nossa estada infinitesimalmente breve no minúsculo cisco que é nosso planeta, nós nos pavoneamos e agitamos durante uma hora no palco e, depois, nada mais se ouve.
Como não há roteiro, e como os humanos não desempenham nenhum papel em nenhum grande drama, coisas terríveis podem nos assolar, e poder algum virá para nos salvar ou para dar significado a nosso sofrimento. Não haverá um final feliz, ou um final ruim, ou nenhum final. As coisas simplesmente acontecem, uma após a outra. O mundo moderno não acredita em propósitos, apenas em causas. Se existe um mote para a modernidade, ele é: “Coisas ruins acontecem”.
Por outro lado, se coisas ruins simplesmente acontecem, sem nenhuma ligação com um roteiro ou um propósito, então tampouco os humanos estão limitados a algum papel predeterminado. Podemos fazer qualquer coisa que queiramos, contanto que encontremos um meio de fazê-la. Não somos constrangidos por nada, a não sr por nossa própria ignorância. Pragas e secas 200não têm significado cósmico — mas nós podemos erradicá-las. Guerras não são um mal necessário no caminho para um futuro melhor — mas nós podemos fazer a paz. Nenhum paraíso nos aguarda após a morte — mas podemos criar um paraíso aqui na Terra e viver nele para sempre, desde que consigamos superar algumas dificuldades técnicas. Se investirmos dinheiro em pesquisas, as descobertas científicas irão acelerar o progresso tecnológico. Novas tecnologias vão alimentar o crescimento econômico, e uma economia em crescimento pode destinar ainda mais dinheiro à pesquisa. Cada década que passar poderemos usufruir de mais alimento, de veículos mais rápidos e de medicamentos mais eficazes. Um dia nosso conhecimento será tão vasto e nossa tecnologia tão avançada que conseguiremos destilar o elixir da juventude eterna, o elixir da felicidade verdadeira e qualquer outra droga que possamos vir a desejar — e nenhum deus irá nos deter.
Portanto, o trato da modernidade oferece ao homem uma enorme tentação, aliada a uma ameaça colossal. A onipotência está diante de nós, quase ao nosso alcance, mas debaixo de nós se escancara o abismo do nada total. No nível prático, a vida moderna consiste numa constante busca do poder num universo destituído de significado. A cultura moderna é a mais poderosa da história e está incessantemente pesquisando, inventando, descobrindo e crescendo. Ao mesmo tempo, é assolada por mais angústia existencial do quequalquer cultura anterior.
(Yuval Noah Harari)

domingo, 26 de fevereiro de 2017

Tia

Marlene estava cansada. Exausta. Queria sumir. Andar, andar e andar. Sem parar. Sem olhar para trás. Sem destino. O fardo lhe era muito pesado.
Mas, como sempre, estava restrita àquelas paredes, àqueles contornos assumidos tanto tempo antes. Àquela prisão.
Naquela sucessão de dias, aquele era mais um dia interminável. Estava sentada cuidando de uma atividade manual qualquer, tão absorta, que não se deu conta de que sua tia viera para uma visita surpresa. Estava de passagem mesmo. Bateu na porta algumas vezes depois que a campainha respondeu com um silêncio quando pressionada e, depois de algumas tentativas, desistiu. Não queria ser incômoda. Ou talvez não houvesse ninguém em casa mesmo. E desceu as escadas para ganhar a rua novamente.
Foi quando Marlene teve um estalo e correu para a janela a tempo de ver a tia entrando em um táxi.
- Tia! Tiaaaa!!!
Mas o táxi já partira deixando uma poeira de cascalho. Como que tomada de um frenesi, subiu no par de tamancos esquecido em algum canto da cozinha, pegou seu celular inseparável e, sem se importar no vestido curto e puído, desceu as escadas como um raio, saltando os degraus. Quando chegou embaixo, o táxi já ia longe.
Mas, sem saber o porquê, saiu como uma louca, longos cabelos desgrenhados ao vento, perseguindo o táxi:
- Tia! Tiaaaa!!!
O táxi subiu ladeiras, desceu ruas, cruzou avenidas, passou por bairros inteiros, parou em semáforos, quando Marlene tinha a impressão de que conseguiria alcançá-lo, partiu mais lépido que antes, até chegar a uma escola do outro lado da cidade, quase no ocaso, de onde crianças saíam para encontrar seus pais sorridentes.
A tia desceu e não pode conter o espanto ao ver se aproximar, curvada, com meio palmo de língua para fora, quase que totalmente sem ar, Marlene:
- Tia, eu tava em casa!
Explicadas as circunstâncias do desencontro, ela disse:
- Tia, posso passar uns dias na sua casa? Acho que vou explodir.
- Claro...
Tomaram outro táxi, dessa vez em direção à casa da tia.
Foi então que Marlene viu o recado do seu filho no whatsapp:
- Mãe, o que aconteceu? Você saiu correndo do nada! Você me assustou.
Ela se limitou a responder:
- Filho, avisa seu pai que vou passar uns dias na casa da tia.
Quase instantaneamente depois de entrarem no apartamento, fizeram amor.

Estão juntas há dois anos.

domingo, 12 de fevereiro de 2017

Nome da minha memória visual: Dory.

Flavia Santos está assistindo uma série e eu lhe disse:
- Conheço essa atriz!
Mas não me lembrava de onde. Ela pesquisou no Google e viu que ela tinha trabalhado no Breaking Bad.
- isso mesmo! lembra que era a ********? (spoiler bloqueado kkkk)
Ela se lembrou.
Ainda fiz uma piadinha:
- Jamais me esqueço de um rosto feminino!
Alguns minutos mais tarde, em uma nova cena, eu lhe disse:
- Peraí, essa atriz eu também conheço!
- Ué, mas é aquela que você acabou de falar!
- Qual?
- a do Breaking Bad!
- Putz, é mesmo!

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Fé na evolução?

“É preciso muito mais fé para acreditar na ‘teoria’ da evolução que no ‘relato’ da criação” (antigo provérbio chinês)

“Nunca vi macaco virar gente.
E barro virar gente, já viu?” (poema ancestral catalão)

O sujeito está largado no sofá assistindo algum canal Discovery, fascinado com o relato da reconstrução de um crime sem solução há 20 anos. Os investigadores, muito diligentemente, juntam os menores indícios possíveis, provas de DNA e conseguem reconstituir como teria sido a cena do crime. Mais um criminoso que havia se safado durante décadas atrás das grades. Muda de canal e se depara com outro programa em que está se fazendo um relato de como teria surgido a vida na terra. Meneia a cabeça, tsc, tsc, tsc, e muda de canal, pensando: como esses caras podem afirmar tamanhos absurdos se nunca estiveram lá? É preciso ter muita fé para acreditar nisso.

Em um pequeno vilarejo no sul de Minas Gerais, alguns cestos de lixo amanhecem revirados. Surgem duas teorias: (a) uma matilha de cães, que costuma vagar pela cidade, estava particularmente esfomeada naquela noite e saiu revirando os lixos à procura de alimento ou (b) um urso esfomeado saiu procurando comida nos cestos de lixo. Qual seria a alternativa mais razoável? Considerando o estado que se encontrariam os cestos, indícios de que um animal o teria revirado, seria muito mais simples supor que os cachorros tiveram um surto de fome e saíram revirando os lixos, afinal, qual a probabilidade de um urso aparecer do nada no sul de Minas revirando lixos? Para isso ocorrer teria que haver tantas variáveis envolvidas que tal possibilidade seria descartada como absurda. Mas eis que surge uma nova informação: “Cuidado!!! Nessa última noite um urso fugiu do circo que está de passagem pela cidade!” Bem, aí a coisa muda totalmente de figura, ainda que não descartada a possibilidade da matilha de cachorros, a ação do urso começa a ficar muito mais plausível. Mas ninguém viu. O que seria necessário para se descobrir o mistério? Indícios. Por exemplo, pegadas do urso, cercas avariadas compatíveis com um animal de grande porte, etc. Existe uma ferramenta lógica utilizada pela ciência chamada Navalha de Occam: “Quando duas ou mais explicações para um fenômeno dispõe do mesmo número de evidências aquela que envolva um menor número de entidades e pressupostos e for a mais simples tem maiores chances de ser a correta.” Aliás, o pensamento científico se baseia em alguns pressupostos muito importantes e essa ferramenta é um deles. Faz todo sentido.

Mas a história está longe de terminar. O pároco do lugarejo, uma pessoa muito respeitada, um sábio, entra em cena lembrando o pessoal que, segundo o capítulo e versículo tal do seu livro sagrado, e as interpretações canônicas do texto, há anjos que reviram cestos de lixo sempre que se dão determinadas condições supostamente existentes no episódio. Pronto, esquece, a teoria dos ursos tem que ser descartada:  quem defende a hipótese dos ursos deve ter muita fé, afinal faz muito mais sentido supor que foram os anjos que fizeram aquilo. OK, o exemplo foi bem grotesco, mas às vezes precisamos exagerar um pouco os exemplos para as contradições ficarem mais evidentes.

Obviamente, é impossível não se lembrar de Galileu Galilei que foi condenado pela igreja católica porque sua teoria de que a terra não era o centro do universo não passava de uma heresia teológica.

Voltando ao nosso “antigo provérbio chinês”, a noção que se tem hoje do surgimento da vida na terra e sua evolução é fortemente amparada por todas as descobertas científicas, não apenas na biologia, mas também nos demais ramos da ciência como a cosmologia, arqueologia, geologia, palenteologia... A exemplo dos investigadores criminais, os cientistas estão há séculos coletando indícios e tentando montar o quebra-cabeças que desvenda os mistérios da nossa existência aqui. Ainda que, conforme disse Einstein, nosso conhecimento científico perto da realidade seja primitivo e infantil, todos os indícios desse quebra-cabeça convergem para esse quadro do que se convencionou chamar de “evolução”. Certamente, no passado, quando os indícios praticamente não haviam sido descobertos, era preciso muito mais fé para acreditar em um processo evolutivo do que acreditar em que Deus teria feito o homem do barro e o lançado prontinho, zero bala, no jardim do éden. Mas, com as descobertas, muitas delas desconcertantes, obtidas por meio da ciência, agora parece muito mais razoável acreditar em processos evolutivos que o surgimento inesperado do ser humano feito a partir do barro por Deus.

Ciência é um tema árido e a maioria das pessoas não são atraídas por ela, é um esforço de alguns séculos apenas. Já a identificação com processos religiosos é algo que nos acompanha desde tempos imemoriais. Então, é natural que a maioria de nós nos sinta confortável no mundo dos postulados religiosos, afinal, nosso condicionamento para enxergar o mundo e compreendê-lo sob a perspectiva religiosa é de milênios, enquanto que o despertar científico é coisa de alguns séculos. Ainda estamos engatinhando na era científica. Demorará muito tempo (milênios?) para que consideremos normal explicações objetivas da realidade e não interpretações religiosas.

Por ser um tema árido, nós não temos o hábito de nos inteirarmos de como se dão esses processos científicos, de como essas “investigações” nos diversos ramos da ciência se complementam e explicam muita coisa da nossa realidade, até mesmo nossa insipiente compreensão de como viemos parar aqui. O curioso é que, no mundo das partículas, por exemplo, tudo é “teórico”. Postula-se uma ideia, tenta-se prova-la por meio de experimentos, se o resultado é positivo, a hipótese é provada. E assim a ciência segue desvendando os mistérios das partículas, ainda que não o compreendendo bem. Mas o que já é compreendido permite uma infinidade de aplicações que chegam até nós por meio da tecnologia. Ninguém está “vendo”, mas todos nós nos beneficiamos disso. Daí, o religioso criacionista aceita todo esse conhecimento científico sem questionar, sem descrer, mesmo que ele não leia nada a respeito em faça ideia de como se chegaram a tais resultados, afinal, ele está fazendo uso da tecnologia (como descrer disso?). No entanto, no caso da teoria da evolução, ainda que os procedimentos sejam rigorosamente os mesmos e as conclusões obtidas também permitam esse acúmulo de conhecimento, ainda que sempre provisório, o religioso criacionista não acredita e, se não bastasse, diz que o cientista tem mais fé do que ele.


Por fim, um esclarecimento bastante útil a respeito do “poema ancestral catalão”: a ciência não afirma que o homem veio do macaco. Esse é um engano que pode ser eliminado se interessando pelo assunto.

domingo, 15 de janeiro de 2017

Waze, simulacro da experiência religiosa

Não sei se porque tinha tomado uma taça de vinho antes de buscar o Vitor na sua prova do vestibular Unicamp e já estava meio brisado, mas me ocorreu uma ideia interessante ao voltar da faculdade e observar o caminho sugerido pelo Waze até o posto de gasolina.

Eu sempre utilizo o Waze mesmo nas rotas conhecidas. A questão é que quase sempre há opções e escolher as opções de rota disponíveis implica em lidar com dilemas, já que uma rota escolhida pode ter algum problema e pode bater arrependimento de não se ter escolhido outra. Daí eu simplesmente delego a escolha da rota ao Waze. Se houver problema, pode ser que a outra rota estivesse pior, já que o algoritmo do Waze escolhe, em tese, a melhor rota: a tendência é acreditar que o Waze escolheu o que é melhor para minha rota. E mesmo que não seja a melhor rota, sempre há a possibilidade de colocar a culpa no Waze, já que a escolha não foi minha. Também há um benefício adicional: não preciso ficar pensando no caminho a escolher, o Waze o faz por mim.

O paralelo com a atitude religiosa me pareceu muito evidente (acho que vou tomar mais vinho, gostei da brisa). Em um sentido específico, a religião não é exatamente isso, delegar (ou achar que se está delegando) a uma divindade nossas escolhas? Se achamos que a divindade escolheu e não nós, se algo não sai exatamente como gostaríamos, sempre há a possibilidade de conforto do “Deus tem seus mistérios”, “foi a vontade de Deus”. Então, pensando bem, é uma maneira muito fácil de lidar com a vida, quando acreditamos que estamos sendo tutelados por uma divindade: nada dará errado, afinal, Deus está no comando. E se der muito errado, sempre há a possibilidade de colocar a culpa no diabo, aquele desgraçado!

Adoremos o deus Waze. Aleluia!

sábado, 14 de janeiro de 2017

O inseto

O inseto já estava sobrevoando havia um tempo e me incomodava. Tentei enxotá-lo pela janela do escritório, sem sucesso. Foi quando assoprei e ele aterrissou de costas na bancada do escritório. Fui até o banheiro, peguei um pedaço de papel higiênico e tentei pegá-lo cuidadosamente. Não tive muito sucesso e, quando consegui, percebi que o lastimara. Então, tomei a decisão definitiva e radical: envolvi-o cuidadosamente em várias camadas do pedaço de papel e apertei o montículo com muita pressão, de uma única vez. Com isso dei-lhe uma morte rápida e digna, lamentando o desfecho dramático. Depositei respeitosamente seus restos mortais na lixeira do banheiro em uma atitude de quase prece. Amém.
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segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Ler é preciso (edição 2016)

2016 foi um ano muito intenso em vários aspectos e isso refletiu negativamente em algumas das minhas atividades mais caras, uma delas a leitura. Além de gostar muito de ler, gostaria de ter muitas vidas para poder ler todos os livros da minha lista, apenas pelo prazer de manter contato com o pensamento de outras pessoas. Por isso mesmo li menos do que gostaria no ano que se foi. Dessa  vez, eu, um amante das estatísticas, acrescentei um detalhe a mais nos meus registros, que é a quantidade de páginas de cada livro, ideia copiada do Thiago Mendanha. É uma informação que não agrega muita coisa mas satisfaz essa minha estranha tara por estatísticas:

  1. Chatô, o Rei do Brasil (Fernando Morais) - 616 páginas
  2. As transformações na música popular brasileira - um processo de branqueamento? (Patricia Crepaldi) - 148 páginas
  3. Contos Fluminenses (Machado de Assis) - 167 páginas
  4. Histórias da meia-noite (Machado de Assis) - 111 páginas
  5. Da necessidade de um pensamento complexo (Edgar Morin) - 27 páginas
  6. Sapiens Uma Breve Historia da Humanidade (Yuval Noah Harari) - 464 páginas
  7. Presos que menstruam (Nana Queiroz) - 294 páginas
  8. Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios (Marçal Aquino) - 232 páginas
  9. Entre rinhas de cachorro e porcos abatidos (Ana Paula Maia) - 160 páginas
  10. Como água para chocolate (Laura Esquivel - espanhol) - 205 páginas
  11. Primeiro amor (Samuel Beckett) - 32 páginas
  12. Condessa sangrenta (Alejandra Pizarnik) - 60 páginas
  13. Como conversar com um fascista (Márcia Tiburi) - 196 páginas
  14. O irmão alemão (Chico Buarque) - 237 páginas
  15. Música de invenção - volume 2 (Augusto de Campos) - 144 páginas


3.093 páginas, ou seja, 8,47 páginas  por dia, olha que beleza, seja  pra que isso sirva!

Por fim, comecei o ano lendo um  novo livro iniciado no último dia 31 de dezembro, por sugestão da Rina Pri: Breve Historia de Quase Tudo (Bill Bryson) é mais um daqueles livros sobre um dos temas que mais me  apaixona, muitas perguntas e algumas respostas sempre provisórias sobre esse deslumbrante mundo em que vivemos e o mistério da vida.edi