Eu havia retornado de uma pedalada quando a Flávia me ligou
da sua caminhada:
- Pode me buscar na loja tal que eu passei aqui para comprar
um carregador de tablet? Aproveita e traz o seu tablet para testar?
Descasquei uma pokan, coloquei-a em um pote, tablet, chave
do carro, dirigi até a loja. Vestia tênis, calça do agasalho esportivo e uma
camiseta desbotada. Estacionei do outro lado da rua, um pouco mais à frente da
loja, atravessei a rua e voltei pela calçada, displicente, tablet debaixo do braço
e pote com a pokan na outra mão.
Pensando na vida, sabe-se lá em que, fui entrando na loja. O
segurança me barrou:
- O que você quer?
Supreso, não entendi. Olhei para sua cara, desconfiado, meio
rindo, acreditando que era alguém que me conhecia e estava fazendo uma
brincadeira. Não raro me deparo com pessoas que me conhecem, conversam comigo e
eu fico disfarçando tentando me lembrar de quem se trata. Acreditei que estava acontecendo
de novo.
Olhei para a cara dele tentando reconhece-lo e entrar na
brincadeira, mas ele ficou impassivo. Definitivamente aquilo era um jogo. A
Flavia estava mais ao fundo da loja e, quando me viu barrado na porta, se
aproximou. Como eu estava naquela situação indefinida, sem reconhecer a pessoa,
joguei a toalha, esperando não ter estragado a brincadeira:
- Vim falar com minha esposa – e apontei para a Flávia.
Foi então que ele me deixou passar.
Olhei para a Flavia, sem entender nada, e foi então que eu
percebi que o que tinha acontecido.
O tempo que precisei para entender o episódio, foi o que
levei para me aproximar do balcão.
- Sandra!
A loja é de amigos da infância. Não nos víamos há um bom
tempo. Enquanto concretizávamos a compra, colocamos as notícias em dia e
atualizamos o status a respeito dos parentes: e sua mãe? E sua tia? Seu irmão apareceu,
inicialmente não o reconheci, embora ele tenha me reconhecido. Enfim, foi um
reencontro agradável, enquanto desfrutava da pokan que estava uma delícia.