sábado, 30 de março de 2019

Eu Sou

Para os que viveram os tempos em que eu definia o repertório e os arranjos do coral jovem da Umadesa, em Santo André, essa música é histórica. Conheci-a quando adolescente, com o Sidnei Ribeiro de Souza, fomos à galeria do rock e, numa das lojas de discos evangélicos, nos deparamos com o álbum de um desconhecido "Musart" que tinha, na sua formação, alguns dos mais importantes atores da música adventista das décadas seguintes. Lembro-me que fiquei extasiado com o disco. O Sidão também. A música de abertura do álbum, "Filho meu", me causou tanto impacto que, anos mais tarde, compus uma música com o mesmo nome justamente por influência dela, da expressão "filho meu" que ressoava demais na minha mente. Infelizmente nunca mais encontrei o álbum Musart. Mas ao me deparar com essa música, lembrei-me desse passado em que a música me propiciou experiências tão ricas. Quanto à música "Eu sou", tirei as vozes e fiz uma adaptação do arranjo para metais, com muita pompa e circunstância. Aparentemente, muita gente gostava da experiência de cantar aquela música, o que me enchia de alegria e satisfação. I Am (link spotify compartilhado comigo pelo William Almeida)

segunda-feira, 18 de março de 2019

Avalanche onírica

Nessas últimas semanas tenho sonhado muito à noite. avalanches de sonhos.
Essa noite tive vários. Em um deles estava em um shopping com os meninos, a perna dos meus óculos quebrava e também se soltava porque caía um parafuso.
A tentativa de solucionar o problema era um completo desastre e piorava a cada momento. Já no final do sonho, eu urinava no piso do shopping, que estava prestes a fechar.
Na metade do sonho, na impossibilidade de deter os eventos fortuitos, eu dizia para mim mesmo: isso é um sonho, vou interromper e depois vou contar para a Alê que consegui interromper um sonho de novo.
Consegui interromper o sonho.
Mas depois ele voltou e a narrativa desastrosa continuou até ele se desintegrar totalmente.

Acho que esse sonho decorre das lutas épicas que estou travando com um código que estou escrevendo. O algoritmo é inteligente e faz uma porção de coisas sozinho.
Mas, ainda que seja um universo bem delimitado, prever tudo, controlar as possibilidades e programar isso é um trabalho épico.
O esforço mental e até emocional despendido é grande.
Talvez por isso esses sonhos intensos onde é comum eu me debater em um cenário de caos onde vou perdendo o controle aos poucos...

Amigo imaginário

Deus é um amigo imaginário que oscila entre o alter ego e o superego freudiano, e essa oscilação se dará em função do seu nível de castração religiosa.

(Divagação filosófica a partir de uma afirmação da Pri Ferminio)

sexta-feira, 15 de março de 2019

Sobre o medo



I Jô 42:3

Mário Schenberg, o maior físico teórico do Brasil, um dos maiores do mundo, segundo Jô, considerado por Einstein seu sucessor, foi acolhido na casa de Jô e Theresinha, no bairro paulistano de Moema, durante algumas semanas, fugitivo da ditadura. Ele conta alguns episódios dessas semanas. Esses episódios são tratados no último capítulo do 1º volume do seu livro de memórias, que começa falando sobre o sentimento imediato que ele teve quando se deu o golpe militar: medo. Ele disse que era um sentimento que até então ele não conhecia com o qual teve que conviver durante muito tempo.

A gente vê claramente o medo que os perseguidos pela ditadura sentiam. Mas esse relato da biblioteca do físico mostra algo bastante claro para mim. O medo dos ditadores. A ditadura atacava os intelectuais, os pensadores, as mentes livres justamente por ter medo deles. Por isso se tornavam truculentos. Eu fico com a impressão que ditadores em geral se sentem diminuídos, acuados, ameaçados por pessoas que detenham conhecimento, que tenham uma visão da vida mais ampla que suas mentes mesquinhas e limitadas. Por isso as atacam, porque essas pessoas representam ameaça.

Isso me fez lembrar de um episódio na minha igreja. Eu sempre fui tido como um jovem “questionador” demais. Alguns pastores, principalmente da minha fase da adolescência, viviam a me entregar para o líder máximo da nossa comunidade evangélica, o “pastor presidente”. Lembro-me de algumas reuniões que fiz na cozinha de um deles, quando ele tentava enquadrar minha forma de pensar. Todo esse “problema” porque eu era uma mente independente, com ideias fora da caixa e, de alguma forma, ganhava alguma notoriedade (musical) e respeito na comunidade. Enfim. Anos mais tarde, recém-casado, um dos pastores que não suportava muito meu jeito independente de ser, me disse certa vez na secretaria da igreja: “Obadias, eu tenho medo de você.” Eu ri. Achei realmente engraçado e irônico até. Como assim, medo de mim? A relação de poder, a meu ver, estava totalmente invertida na cabeça dele. Ele era um pastor com todo poder e que poderia me massacrar, se quisesse, eu era um simples membro que, a propósito, não me defenderia de qualquer ataque, como nunca me defendi de nenhum deles. Mas confesso que, na hora não entendi. Anos mais tarde aquela confissão fez sentido para mim e é o mesmo que eu vejo no relato dos intelectuais/pensadores/cientistas perseguidos pela ditadura, guardadas as devidas proporções. As figuras que detêm o poder institucionalizado se sentem diminuídas diante do conhecimento ou capacidade de enxergar o mundo de forma não tacanha de tais pessoas e a reação sempre é atacá-las, calá-las, destruí-las, enxovalhá-las. Por puro medo.

Fica uma reflexão para os negros momentos em que vivemos no nosso país, onde a imbecilidade e o pensamento obscuro, tacanho, fundamentalista, reducionista, simplista, negador da alteridade chegou ao poder com uma sede insaciável de caça às bruxas, apoiado pro exércitos de zumbis histéricos que promovem verdadeiros linchamentos virtuais em qualquer pessoa que tenha um conhecimento mais profundo sobre qualquer assunto que eles não conhecem e que tais conhecimentos contrariem suas visões rasas e dogmáticas. Medo. Puro medo. De se darem conta da sua vergonhosa nudez intelectual.

segunda-feira, 4 de março de 2019

Papos aleatórios

- Obadias, seja menos polêmico, menos filosófico e mais feliz!
- Ué, para mim a felicidade mora na filosofia. Logo, para mim não são excludentes mas uma relação de causa e efeito. Para outras pessoas diferentes de mim, questionar, pensar além da superfície deve ser um sofrimento. Para mim é felicidade...

- Obadias, por que você perde tempo com essas pessoas?
- Ué, eu vejo coisas que você faz e as consideraria facilmente perda de tempo. Ao menos para mim. Você seguramente discordaria de mim. Já lhe ocorreu que nossa ideia de “aproveitar” o tempo é diferente? Normal, as pessoas são diferentes...

- Obadias, porque você pensa tanto e é um completo desastre em coisas simples e fáceis?
- Pelo mesmo motivo que você arrebenta em atividades que não exigem muita reflexão mas seus pensamentos a respeito de questões mais complexas me surpreendem pela falta de consistência. O hábito faz o monge... e nossos perfis diferentes nos levam a nos especializar em atividades diferentes. É bom que seja assim, inclusive. Viva a diversidade!