sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Um conto do Dia da Consciência negra



 (Baseado em fatos reais)


Mazi Mwan migrara da África para o Brasil. Na condição de refugiado. Um garoto esperto, super esforçado. Com ajuda de organizações não governamentais, conseguiu entrar na universidade por meio das cotas. Tudo bem que ele era visto com desconfiança dentro da universidade: lá vai o desgraçado que roubou a vaga do meu primo que ficou na classificação 4.230. Mas ele sabia do seu potencial.

Estava já no 3º ano e era aluno destaque da sua turma. Porque fora por meio das cotas que ele tivera a oportunidade de chegar à universidade, algo que os bem nascidos do país que o acolhera conseguiam muito facilmente somente por serem bem nascidos. O importante era que estava lá. Não importava se apontavam o dedo para ele.

Em um dos projetos escolares, visitaram uma importante empresa da cidade e lá fizeram um laboratório. Um representante da empresa perguntou ao professor que os orientava se havia algum aluno que ele indicasse para uma nova posição de trainee que estava surgindo na empresa, porque eles haviam gostado bastante daquela equipe. 

O professor, naturalmente, indicou seu melhor aluno, Mazi Mwan. Que ficou muito feliz, um sonho se realizaria. Ele era exemplo de superação: chegara da África como refugiado, com o auxílio de ONGs que lhe apoiaram em todo o processo de aculturação no país e preparo para a universidade, conseguira o ingresso na prestigiada universidade e agora estava prestes a ingressar no mercado de trabalho por um projeto trainee em uma conceituada empresa.

Mas algo estranho aconteceu: a empresa nunca o chamou. Intrigado, o professor entrou em contato com a empresa para saber se eles haviam desistido de abrir a posição de trainee. A informação que recebeu da empresa é que outro professor também havia sugerido outro aluno e eles preferiram o outro por se encaixar mais no perfil da empresa. Quem foi o outro aluno? – perguntou o professor. 

A revelação do nome do outro aluno lhe deixou mais confuso ainda. O aluno tinha um desemprenho bem inferior ao de Mazi Mwan e a empresa sequer tinha se dado ao trabalho de incluir Mazi Mwan no processo seletivo, adotando de cara a indicação do outro professor.

A única explicação que o professor encontrou para a preferência da empresa é que o outro aluno, de desempenho bem inferior ao de Mazi Mwan, era loiro e tinha olhos claros. Será que era isso que a empresa quis dizer quando afirmou que o outro se encaixava mais no perfil da empresa?

Quanto a Mazi Mwan, teve que lidar com sua profunda frustração. Mais uma, na vida de quem nasceu com “a cor errada”.

Por essas e por outras que o Dia da Consciência Negra é tão importante.