quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Sobre nossos pais e o que resta deles

Sempre aceitei o envelhecimento de meus pais, sua decrepitude e morte como um fato inexorável da vida. Sempre pensei a respeito e sempre me preparei para isso, psicologicamente falando.

Em princípio, sempre encarei a morte deles numa boa.

A única vez que eu fiquei abalado mesmo foi quando meu pai teve seu primeiro derrame e o vi deitado em uma cama do hospital. Saí para fora e chorei.

Depois daquele evento, talvez por ter sido meu primeiro contato com a fragilidade e finitude do meu pai, encarei os demais eventos com mais calma e naturalidade.

Quando ele morreu, cuidei dos aspectos mais chatos como fazer o seu reconhecimento no necrotério, já sem vida, levando as roupas que ele usaria, cuidar dos aspectos burocráticos com a funerária e tudo o mais. Nas visitas ao hospital, na semana que antecedeu sua morte, eu o via todo entubado, apagado, mas aceitava como uma espécie de rito de passagem. Confortava-me pelo fato de ele não parecer estar sofrendo.

Só me desestabilizei novamente quando o seu caixão foi fechado pela última vez no cemitério. Fui amparado por um amigo, o Eliézer Venâncio. Incrível como a gente não esquece essas coisas. Meu amigo ficará marcado para sempre na minha história por aquele simples gesto. Não me desestabilizei nos demais eventos não porque me quis fazer de forte, mas por essa forma racionalizada de encarar nosso ciclo de nascimento, existência e morte.

Quando da sua exumação, lá eu estava novamente fazendo toda a parte burocrática: pagar as taxas, acompanhar o desenterrar de seus ossos, colocá-lo em um ossário perpétuo. Peguei seus restos mortais e, enquanto íamos para o ossário, só me ocorreu sorrir e lhe dizer algumas vezes: "Grande Cição!"


Isso foi tudo. O seu legado mais importante está dentro de mim.

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