sábado, 24 de fevereiro de 2018

À flor da pele


Era um sábado típico. Daqueles que eu chamaria de hoje. Descia calma e civilizadamente a Rua Tabatinguera quando, em frente a uma igreja católica que tem lá (Igreja Menino Jesus e Santa Luzia), uma pedestre pisou na faixa.  Parei. O carro que estava atrás de mim buzinou extremamente irritado, fez uma manobra à direita e desceu alguns metros na rua feito um torpedo. Outro carro em alta velocidade fez o mesmo, seguido por uma SUV importada. Todos eles pararam alguns metros à frente já que tinha trânsito no farol abaixo.

A moça na metade de caminho, em frente meu carro, meio assustada, esperando os trogloditas se auto-afirmarem em seus bólidos. Abri o vidro do carro, coloquei a mão para fora e sinalizei para que os potenciais desmiolados que vinham atrás tivessem um pouco de civilidade e parassem. Pararam. Não sei se pelo meu gesto ou por civilidade.

A moça terminou a travessia.

Continuei descendo a rua, vidro abaixado, fiz questão de emparelhar com o idiota da SUV e meneei minha cabeça enquanto o olhava, como quem diz “que bonito, hein?” Ele ficou me olhando com aquela cara de cu “não-tô-nem-aí”.

Esse é mais um pequeno detalhe desse retrato horroroso que é essa nossa sociedade adoecida de pessoas que só pensam em si mesmas, necessitam insultar e xingar os outros, gostariam de ter uma arma para estourar os miolos de qualquer engraçadinho que tente “passar dos limites” e coisas do tipo.

Estamos longe, mas muito longe mesmo, de sermos uma “nação” civilizada (tecnicamente, nem dá para dizer que somos uma nação). “Pessoas de bem” é apenas mais um termo vazio utilizado “ad nauseum” para dar um lustre civilizado às nossas pulsões violentas que estão à flor da pele, prontas para a próxima agressão.

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