sexta-feira, 1 de maio de 2020

Aprendendo com Algernon a ser mais crítico


Estou lendo o soberbo “Flores para Algernon”, de Daniel Keyes, que conta a história de um retardado mental que, depois de passar por uma cirurgia revolucionária, se torna um gênio. Os problemas que isso desencadeia à sua volta, nas suas relações, são muito interessantes.

De repente, as pessoas se sentem incomodadas por conviverem com alguém mais inteligente, capaz de enxergar coisas que elas não conseguem ver. É muito divertido e um convite à reflexão.

Estou em um trecho que me remeteu ao momento em que vivemos, aos “influencers” que arrastam atrás de si multidões de fãs, geralmente pessoas sem capacidade crítica para validar se o que esses “influencers” estão dizendo é verdade.

Ao ter sua inteligência desenvolvida de forma explosiva, ele foi capaz de ler muito rapidamente e, em um pequeno espaço de tempo, conseguiu absorver informação de especialistas numa quantidade que as pessoas jamais conseguiriam absorver em suas vidas. Daí, sempre que alguém dizia algo, ele tinha informações mais balizadas e rapidamente era capaz de identificar impostores, farsantes. E ele se tornou capaz disso não apenas porque era inteligente, mas principalmente porque sua inteligência o permitiu ler e compreender muito conteúdo que lhe deram ferramentas para rapidamente identificar uma farsa.

Isso me lembrou uma história que meu irmão contou quando estudava Letras na Fundação Santo André. Ele tinha uma professora por quem nutria profunda admiração, dado que ela falava com grande desenvoltura sobre qualquer assunto. Ele ficava embasbacado com tanto conhecimento em tantas áreas (que ele não conhecia). Até o dia em que ela resolveu falar sobre música de concerto, assunto que ele dominava com profundidade. Sua decepção foi terrível. Como ele conhecia bem sobre o assunto que ela se pôs a falar, facilmente identificou erros e equívocos na sua fala. De repente, aquela que era um poço de conhecimento ficava reduzida a uma quase impostora.

Como se defender de mestres da retórica que arrebatam multidões com suas lacrações? Primeiro, sendo inteligente (nem precisa ser gênio). Segundo, sendo o mais cético que puder. E por último e não menos importante, ler muito, pesquisar muito, movido pela sede do conhecimento, não da convicção.

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