quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Sobre homofobia e cotas


Participei há pouco involuntariamente de um experimento político/sociológico bem interessante.

Entabulei um diálogo com desconhecidos sobre a questão candente da política. Eu fiquei dando corda só para ver onde a coisa ia parar.

Houve momentos surrealmente épicos:
1.       Não houve ditadura: foi militarismo
2.       A Dilma não foi torturada: é tudo marketing
3.       Os nordestinos não trabalham e vivem de bolsa família, comem muito mal, o custo de vida é baixo e eles se contentam com o bolsa família. Os pais mandam os filhos mendigar nos faróis e ficam em casa vivendo de bolsa família

Um rapaz discordava de coisas que ouvia e depois entrou na conversa. Disse que os extremos de direita e esquerda são ruins. São uma desgraça, eu disse. Ele concordou.
Daí foi colocar seus pontos de vista. Destaco 2 deles:

- Sou contra homossexualismo. Não gosto. Mas não tenho nada contra homossexual (etc.)
- Eu também não gosto de brancos! (ele é branco) Mas não tenho preconceito.
Ele me olhou meio assustado, mas teve que concordar:
- Tudo bem, é seu direito. Mas, você não poderia deixar de empregar um branco.
- Claro que não! Não tenho preconceito contra brancos. Só não gostaria que meu filho se casasse com uma branca. De resto, de boa!
Um amigo na conversa tentou dar uma aliviada porque tinha ficado meio tenso. O rapaz riu, contemporizando:
- Ele está imitando o Bolsonaro...
Arrá! Ele percebeu, não é burro!
***
Daí veio o assunto das cotas:
- Sou totalmente contra cotas, sou a favor da meritocracia.
Concordei com ele e descrevi duas situações extremas: um filho de uma família abastada que nunca precisou trabalhar, estudou nas melhores escolas (pagas), fala outros idiomas, morou no exterior e outro favelado, que perdeu o pai, estuda numa escola pública péssima, do bairro, durante o dia tem que tomar conta dos irmãos mais novos porque a mãe tem que trabalhar, bla, bla,bla... O riquinho se dá super bem na vida, o outro não vai longe. Concluí, ironicamente:
- Óbvio que o primeiro conseguiu com seu esforço e tem todos os méritos por isso. Já o segundo é um encostado, preguiço, que não quis se esforçar.
Ele ficou meio emputecido e, meio alterado, deu a “cartada” tradicional:
- Estudei em escola pública, ralei muito na vida, bla, bla bla!!!
- E daí? Eu também. Ralei muuuuuito!!! Só que eu consigo enxergar essa realidade.
Daí tentei uma abordagem mais didática para ele entender o espírito das cotas.
Gastei alguns minutos explicando a questão do acesso à universidade e como um sistema de cotas pode ajudar quem tem condições de entrar lá mas, porque existe um número muito maior de pessoas que possuem um investimento pesado por parte dos pais, essas pessoas preenchem todas as vagas. Se as mesmas pessoas estivessem nas mesmas condições daquele pobre/negro bastante capacitado, em vez de tirar 7 (digamos) teriam tirado 3 e jamais teriam entrado na tal faculdade. Então o sistema ajuda a dar uma equilibrada nessa injustiça. Basicamente.
- Então, isso faz algum sentido para você? É justo?
- É... é justo. Mas eu não concordo com cotas!

Conclusão: as pessoas não são burras. Elas simplesmente não querem abrir mão de suas ideologias equivocadas, de seus preconceitos, de seus privilégios: se a situação as estiver favorecendo, que se lasque o resto do mundo.


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