sexta-feira, 21 de junho de 2019

A marcha e a mídia

Nunca fui à marcha, nunca gostei, e estava me lembrando do passado, no início dos anos 2000, quando adolescentes do Cifra, um coro jovem que eu regia, iam todos os anos, entusiasmados. Eles ficavam muito felizes e eu, olhando de longe, o único reparo que fazia – de indignação –era o fato de a grande mídia ignorar solenemente o evento. Era uma inequívoca demonstração do desprezo pelos evangélicos.

Nunca gostei da marcha, sempre a considerei desnecessária pelo fato de acreditar que a fé pode - e deve - ser afirmada de outras maneiras. Mas... se as pessoas estavam indo para as ruas, o mínimo que a imprensa deveria fazer era noticiar. Ao contrário, boicotava sistematicamente.

Hoje pela manhã, assisti com um sorriso irônico no rosto a TV Globo fazendo uma cobertura para lá de empolgada do evento.

É... finalmente a "bispa" Sônia venceu: "O Brasil é do Senhor Jesuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuussssssssssssss!!!!!!!!!!!!!!!!!!"

Mas eu ainda fico aqui, cofiando minha barba e, como sempre, olhando tudo isso de forma bem desconfiada. Isso inclui a visita de um presidente da república de extrema-direita, esquizofrênico, que investe pesado em um discurso moralista religioso para arregimentar soldados para sua "guerra cultural" particular.

A conclusão que eu chego é que, quando mais a marcha se aproxima do poder, quanto mais ela atrai todo o tipo de gente oportunista como Bolsonaro e Doria, quanto mais ela é encampada por lideranças evangélicas duvidosas, midiáticas no pior sentido, quanto mais ela cresce e vai se tornando a expressão de uma desejada hegemonia evangélica, menos de Jesus ela é.

Se nos anos 2000 eu já ficava meio desconfiado se Jesus tinha realmente a ver com aquilo, agora então... difícil, hein?

Eu não vi Jesus nas fotos. Eu vi uma multidão de gente – a maioria gente sincera, penso – liderada por uma quadrilha de malfeitores que sabe utilizar bem o aparato midiático e de poder para manter essas pessoas como um grande “rebanho” feliz, mas marcado pela posse mental e roubado, em grande parte, da sua consciência política na medida em que repetem chavões vazios.



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