Há muitos anos li uma frase, infelizmente perdida, que acredito ter sido escrita por Eça de Queiroz, onde ele dizia que o verdadeiro amante da literatura a ama pela forma, não pelo conteúdo. Aquela frase, provavelmente parafraseada aqui, causou-me identificação e felicidade imediatas. Superados os meus verdes anos, onde eu lia qualquer coisa que caía nas minhas mãos, hoje minhas escolhas literárias são um pouco mais seletivas (com algumas exceções que concedo aqui e acolá em consideração a quem me indicou), hoje prefiro leituras que, do ponto de vista da forma, da narrativa, da escrita, me encha os olhos, me faça prender o fôlego, palpitar, não pelo desenrolar envolvente dos mistérios e desdobramentos de um “thriller”, mas pela a elegância das palavras, das frases, do o senso de humor que se esconde por trás das sentenças, da polissemia. Por esse motivo, livros herméticos para a maioria das pessoas, como Grandes Sertão-Veredas (Guimarães Rosa) e Ulisses (James Joyce), para citar dos exemplos supremos, representaram para mim ao mesmo tempo desafio e um imenso prazer ao enfrentá-los.
Voltando a Lionel Shriver, nunca li análises a respeito de sua obra, mas o segundo livro dela que estou lendo, Tempo é Dinheiro, por sugestão da Alessandra Correia, independente de onde me leve a história, sinto-me diante novamente de um texto muito rico, desafiador, delicioso de se ler. Nem de longe é um desafio como Guimarães Rosa ou James Joyce, mas possui, para mim, aquela elegância, sutileza, sagacidade e mordacidade que me encantaram em Precisamos falar sobre Kevin.
Taí uma escritora para ser saboreada pelos amantes da literatura.
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